Acho que o último texto que escrevi não teve muitos comentários por tocar num assunto que não é sequer polêmico, mas apenas aterrador para a maioria das pessoas. Esse provevelmente é mais acessivel, mas ainda assim fala de algumas coisas complicadas.
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Uma pequena litania. Um pouco maçante, é verdade:
Não acredito em política, acredito em loucura.
Não acredito em economia, acredito em ambição.
Não acredito na espada, acredito na caneta.
Não acredito no dinheiro, acredito no papel.
Não acredito em direitos, acredito na liberdade total.
Não acredito na Razão, acredito em mentiras.
Não confio nas religiões, confio na fé.
Não acredito na inocência, acredito na procrastinação do pecado.
Não acredito na perfeição, acredito na beleza da imperfeição.
Não confio nos bons, mas confio todas minhas trinta moedas aos maus.
Não acredito no deus que me impõem, acredito no meu.
Não acredito na Morte, acredito no Céu e Inferno, mesmo que na Terra.
Não acredito nas pessoas que amo, acredito cegamente no meu amor por elas.
Não acredito em somas e divisões, acredito na igualdade pura e inconsequente.
Não confio no poeta, confio na Musa.
Não acredito em poucos, acredito em todos.
Não acredito em muitos, acredito no ninguém.
Não acredito nos sábios, acredito nas árvores.
Não acredito no perigo, acredito no medo.
Não confio na Ordem, prefiro o Caos.
Não acredito em promessas e juras, acredito em olhos e mãos.
Não confio em beijos, confio em carícias.
Não acredito em deveres e métodos, acredito em obesessões e manias.
Não confio na humanidade, acredito nos seres humanos.
Não acredito em Charles Darwin, acredito em Charles Chaplin.
Não confio em você, mas acredito que posso estar errado.
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Uma pequena litania. Um pouco maçante, é verdade:
Não acredito em política, acredito em loucura.
Não acredito em economia, acredito em ambição.
Não acredito na espada, acredito na caneta.
Não acredito no dinheiro, acredito no papel.
Não acredito em direitos, acredito na liberdade total.
Não acredito na Razão, acredito em mentiras.
Não confio nas religiões, confio na fé.
Não acredito na inocência, acredito na procrastinação do pecado.
Não acredito na perfeição, acredito na beleza da imperfeição.
Não confio nos bons, mas confio todas minhas trinta moedas aos maus.
Não acredito no deus que me impõem, acredito no meu.
Não acredito na Morte, acredito no Céu e Inferno, mesmo que na Terra.
Não acredito nas pessoas que amo, acredito cegamente no meu amor por elas.
Não acredito em somas e divisões, acredito na igualdade pura e inconsequente.
Não confio no poeta, confio na Musa.
Não acredito em poucos, acredito em todos.
Não acredito em muitos, acredito no ninguém.
Não acredito nos sábios, acredito nas árvores.
Não acredito no perigo, acredito no medo.
Não confio na Ordem, prefiro o Caos.
Não acredito em promessas e juras, acredito em olhos e mãos.
Não confio em beijos, confio em carícias.
Não acredito em deveres e métodos, acredito em obesessões e manias.
Não confio na humanidade, acredito nos seres humanos.
Não acredito em Charles Darwin, acredito em Charles Chaplin.
Não confio em você, mas acredito que posso estar errado.
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Estava no metrô quando vi a primeira. Não estava completamente lotado como costuma em vários horários todos os dias, no entanto estavam naquele último vagão pessoas suficientes para que alguns tivessem de ficar de pé. Eu estava sentado, escutava alguma música do primeiro disco da Laura Marling, não me lembro com exatidão qual. Ela estava de pé, apoiada numa das portas. Vestia uma blusa azul, tão azul quanto a sua calça jeans, mas o cachecol – e o guarda-chuva – era verde limão, ou verde cana, não sou tão bom assim em diferenciar tons de cores. Os cabelos eram loiros e curtos, extremamente cacheados, os olhos estavam fechados, nuca saberei qual a cor que tinham. Alguma coisa nela remetia à androgenia dos anjos. De fato, os anjos deveriam ser como ela. Nem um pouco atraente, ao menos não para mim, mas indiscutivelmente angelical, seja por seu gênero ser de difícil percepção para os desatentos – ou não tanto assim, logo que meus olhos caíram sobre ela sabia que era uma mulher – seja na sua solenidade, ar de erudição, até mesmo aquela presumível arrogância que os anjos devem aparentar ao se verem entre os mortais, especialmente no metrô. Ainda assim ela me fez pensar que é daquele jeito que devem ser os anjos.
Algum tempo depois finalmente cheguei até onde estava indo. Lá encontrei muitas pessoas, mas a minha surpresa foi que alguma daquelas me fizesse continuar a reflexão que começara no metrô; especialmente por ser uma pessoa que vejo com freqüência. Mas diferentes ocasiões nos propiciam diferentes reflexões, por isso talvez as relações entre pessoas dificilmente conservem-se imutáveis por muito tempo. Elas sempre mudam, talvez apenas um pouco, talvez não para melhor ou pior, talvez até imperceptivelmente, mas mudam. A pessoa que encontrava agora, no entanto, não tinha uma aparência que me lembrasse os anjos. Não, de forma alguma. Ela não tinha uma aparência que pudesse ser descrita apenas por palavras como "encantadora", "fabulosa", ou mesmo "charmosa", no entanto "tentadora" também não se adequaria de forma alguma, embora isso fosse parte do que fizesse. Enfim, era impossível definir aquela aparência, exceto, talvez, por diabólica. Não me entenda mal, se você a visse diria que ela tem cara de santa. Mas mesmo que você dissesse isso alguma coisa nessa definição ia te incomodar. Mas os demônios devem ter uma aparência como a dela para que consigam seduzir com mais facilidade, para que consigam convencer-te que está fazendo determinada coisa por vontade própria enquanto na verdade apenas te arrastam para a perdição. E nesse caso a perdição pode ser qualquer coisa. Uma paixão que faça com que seu peito arda, uma nunca antes provada sensação de rejeição a si mesmo, insegurança quanto àquilo em que você acredita ou, o que é pior, a criação de uma consciência ordinária e banal que vai te fazer repensar tudo aquilo pelo que na verdade deveria se orgulhar como "idiotices de um espírito-livre idiota". Mas tal qual mais vil dos demônios ela te joga no mais profundo poço do inferno apenas para depois te tirar de lá, brincar com você, controlando todos os seus devaneios, infiltrando-se nos seus pensamentos. Tão perfeita quanto só os demônios podem ser.
Adorei a litania, Emannuel.
ResponderExcluirE está maçante, sim, como toda boa litania deve ser.
Agora, quanto ao texto, peço um esclarecimento, e perdoe-me a ignorância por isto, mas qual a relação entre ele e o título(Concerto em D menor para dois violinos) ?
Obrigado Gaga! Eu tinha pensado em publicar com outro título, na verdade, mas acabei mudando de idéia assim que publiquei pela primeira vez, tanto é que apaguei e postei de novo com outro título. Originalmente ia se chamar "Não Estou Falando de Religião", mas no fundo ia ser uma mentira então coloquei esse nome baseado numa obra de Bach, que fala de religião mas sem realmente falar sobre ela. Os dois violinos servem tanto para as duas partes do texto quanto para as duas personagens da segunda parte. E por algum motivo para mim também é como se esse título dissesse respeito a mim, pois esse provavelmente é o meu primeiro post onde todas as partes são "baseadas em fatos reais", mas não me pergunte porque faço essa relação, eu não saberia responder. E quando é que você volta a escrever por aqui? Estou sentindo falta de textos seus!
ResponderExcluirP.S: O texto foi editado, não estava muito satisfeito com ele então acabei mudando um pouco e quebrando minha rotina de não revisar o que escrevo. Está um pouco melhor, mas a segunda parte ainda não está muito clara.