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domingo, 27 de junho de 2010
A convivência com a diversidade
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Ode Expiatória
Frente à bandeira norteamericana
É preciso ter força, é preciso ter raça,
É preciso ter Gana!
(Aí...)
À nação dos Ronalds, sempre hegemônica,
A surpresa de outros países dando a tônica
Ao Big Mac, que queria colonizar Acra,
O acre da derrota - com seu molho especial
Porém não é esse o fim, Obama, afinal
Não se vive só de soft power
(Como bem sabia Jack Bauer)
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quinta-feira, 24 de junho de 2010
Scientia Vinces (I)
A gênese da Universidade de São Paulo, bem como a implantação de boa parte de sua estrutura em um campus estrategicamente distante do centro da cidade de São Paulo, eventos ocorridos em contextos políticos-sociais distintos mas convergentes quanto à crítica importância na realidade brasileira, evidenciam o grande papel social vanguardista que tanto seus docentes quanto discentes exerceram ao longo da história do Brasil. Estandarte do saber em suas mais diversas vertentes, perpassando conhecimentos humanos, exatos, biológicos, interconectando-os em uma complexa teia de interdisciplinaridade, ela constituiu e constitui uma das mais profícuas fontes de recursos humanos e tecnológicos, formando profissionais altamente capacitados, criando contribuições inestimáveis à evolução da ciência e promovendo, constantemente, a comunicação de suas atividades com o meio externo, imiscuindo universidade e comunidade; contribuições essas sintetizadas no tríplice lema do ensino, pesquisa e extensão. Contudo, o vislumbrar das últimas duas décadas tem mostrado triste prospecto, ao menos em seu viés administrativo: à parte das notáveis conquistas intelectuais ali alcançadas, a universidade tem se tornado periodicamente refém inconteste de minorias estudantis e sindicalistas, ansiosas de promoverem politicagens divergentes da proposta evidentemente plural e respeitosa constituinte do âmago universitário. Urge uma minuciosa análise dos motivos, bem como das trágicas conseqüências com as quais o meio universitário arca diante do engessamento de suas principais funções administrativas, sob as frágeis estruturas argumentativas de certos grupos.
É absolutamente inegável o papel fundamental que o mecanismo de greve teve no decorrer de toda a história, especificamente após o advento das revoluções burguesas do fim do século XVIII. A ausência de meios jurídicos, bem como de instrumentos político-legislativos para a regulamentação das relações entre capital e trabalho resultou no absoluto descaso por condições minimamente dignas de exercício remunerado, levando milhões de indivíduos à irremediável miséria – não só monetária, mas fundamentalmente moral –, evidenciando a clara necessidade de uma ação suficientemente coordenada. A greve nasce, dessa forma, como único instrumento eficiente de reivindicação e que, surpreendentemente, obteve sucesso na mobilização da classe trabalhadora e posterior constituição de uma legislação trabalhista que, de forma evidentemente resumida, elenca diversas condições mínimas de dignidade para o exercício humano de uma profissão. Contudo, um passado notavelmente vitorioso não justifica, de maneira alguma, o acobertar de uma realidade cuja patente gravidade se mostra em uma análise necessariamente neutra da presente situação. Concentrar-nos-emos aqui no recorrente esteio fundamental do referido movimento grevista da Universidade de São Paulo: a anual contenda por reajustes salariais, ano após ano vociferada em nome de uma suposta isonomia. A exigência de democracia universitária, polêmica e compartilhada por círculos mais amplos no meio docente e discente, bem como o apoio estudantil a diversas dessas manifestações serão, ambas, objetos de futura análise.
Cabe, nesse contexto, desmistificar o certame salarial que, ano após ano, toma como campo de batalha a Universidade de São Paulo. Segundo dados oficiais e do referente ano, os funcionários não-docentes da instituição dividem-se em três categorias, cada uma com respectivas faixas salariais, a saber: básica (R$1.210,90 e R$2.044), técnica (R$1.789,05 e R$3.569) e superior (R$3.542,20 e R$7.005). É pertinente, aqui, o primeiro comentário, escancarado nos valores supracitados: os salários pagos pela referida instituição estão em níveis incomparavelmente superiores àqueles obtidos na iniciativa privada, colocando por terra a primeira suposição, largamente divulgada, de que os referidos funcionários possuem remuneração parca. Para além do salário nominal, tais indivíduos também têm (de forma indiscutivelmente justa) o direito a uma série de benefícios, como auxílio-alimentação mensal de R$470, auxílio creche mensal (concebido segundo o número de filhos) de R$449,95, auxílio educação-especial no valor de R$449,95, além da ampla gama de serviços providos pela universidade a toda comunidade, como assistência médica e acesso a instalações esportivas. Ambos, salários e benefícios, são reajustados a taxas indiscutivelmente superiores à inflação: a título de exemplo, no período 2007-2010 acumulou-se um processo inflacionário de 16,4%; os reajustes de salário do período, considerando-se a proposta sustentada para o atual ano, de 6,57%, somam 20,3%; no decorrer do período de 2004 a 2010, a inflação de 33,2% foi acompanhada de um aumento no auxílio creche de superiores 49%; no vale refeição de substanciais 127% e, surpreendentemente, no que toca auxílio-alimentação, em um acréscimo da ordem de 213%, variando de R$150,00 para os já citados R$470,00.
A análise concisa e solidamente embasada em referências numéricas imparciais revela a total ausência de razoabilidade no conjunto argumentativo que dá base ao recorrente processo de greve nas dependências da Universidade: os salários e benefícios da referida instituição não só são indubitavelmente correspondentes às obrigações e qualificações de seus funcionários, como também são objeto de reajuste rigorosamente acima da inflação, evidenciando, dessa forma, a transmutação do que seria um esteio para um movimento supostamente legítimo em um insustentável apoio utilizado por elites e minorias sindicais, ciosas de longas paralisações que prejudicam o provimento de serviços fundamentais financiados pelo erário público de forma geral, em mais um clássico exemplo de irresponsável dispêndio de dinheiro advindo de impostos associado à ineficiência administrativa absolutamente endêmica.
Nesse sentido, é infelizmente freqüente na comunidade universitária notar, de forma especial no apoio desmedido e impensado dado por alguns grupos do interior universitário ao movimento, a visão maniqueísta e acobertadora, sempre mais fácil de ser entendida e transmitida: a classe trabalhadora universitária seria mera refém de uma ordem opressiva e construída para destituí-la de seus direitos fundamentais, objetivo comum a quaisquer indivíduos que se atrevam a erguer suas opiniões contrárias à paralisação ou a meramente discuti-la de forma crítica, questionadora e imparcial.
Posicionar, de tal forma automática e impensada, os atores em suas respectivas posições históricas de “oprimidos” e “opressores” não é só uma derrocada das defesas da análise precisa e do entendimento argumentativo: é se entregar a concepções confortavelmente prontas e que, inevitavelmente, nos levarão à traição das divisas fundamentais indelevelmente forjados no brasão da instituição que escolhemos para nos constituirmos enquanto cidadãos cônscios. Que nós vençamos pela ciência.
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Como explicar?
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segunda-feira, 21 de junho de 2010
Feijoada búlgara (ou um minuto de cegueira)
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domingo, 20 de junho de 2010
A síndrome do bom burguês
Estive com o Raúl e mais alguns RIanos na "Assembléia" que teve no prédio da História quinta-feira, cuja pauta era referente à famigerada greve dos funcionários da USP, se os estudantes deveriam aderir a ela. [A princípio, tinha pensado em ir direto ao assunto, mas não resisto a iniciar o texto tecendo uma crítica acerca do modus operandi da "Assembléia".] A bagaça começou com quase uma hora de atraso porque a mesa, composta por membros do DCE, queria estabelecer, por votação direta dos presentes, o tempo disponível aos oradores - os quais seriam sorteados para falar após a sua inscrição - e se estes poderiam concedê-lo a outro se assim o quisessem. A votação mostrou-se um processo primitivo: as quase 300 pessoas que assistiam a "Assembléia" levantaram a mão e foram contadas por uma pessoa x de boa vontade. E para mencionar outros inconvenientes: o prédio da História está longe de ser o mais adequado para essas ocasiões; ele é todo "aberto", o som se propaga para todos os sentidos e a caixa de som em si não ajudava, sem contar o falatório por parte de muitos que ali estavam.
Acho que o fato de haver todo um processo lento e desengonçado antes das "Assembléias", referente ao seu funcionamento, desencoraja quaisquer estudantes que mostrem alguma disposição para se deslocar até o local e participar da coisa política - pensei em vazar na hora, mas como tinha cerveja por 1,50... Por que não criar um modelo fixo de Assembléia, que prescinda dessas formalidades iniciais? Ela não vai deixar de ser menos democrática por isso.
Sobre o que foi dito na "Assembléia", era esperado - pelo menos por mim, calouro ingênuo -, que os dois lados tivessem vez nos discursos, ou seja, que os vermelhinhos (a favor da greve) e os "reaças" (contra) se pronunciassem. No entanto, o que ficou claro é que todos os oradores tendiam à esquerda e defendiam a greve, mas se encontravam divididos [ah, vá...?!] quanto a outras questões. A fala de alguns deles me surpreendeu bastante. O indivíduo y do DCE, que depois eu descobri ser pouco popular entre seus colegas das sociais, poderia mobilizar todos nós e instaurar um regime nazista no Brasil por meio de sua retórica se quisesse; não lembro mais o conteúdo da fala dele, mas foi bastante convincente e me pareceu na hora sensato. Uma oradora conquistou a minha simpatia pelo seu relativo pragmatismo - apesar de ela cursar filosofia -, dizendo que não era contra a greve, mas contra esta ser utilizada como recurso no momento, sem haver uma mobilização geral da USP em prol da causa dos funcionários. O resto tentou nos persuadir dizendo que a universidade já estava mobilizada, que a greve era uma necessidade e um direito conquistado pelos trabalhadores; apelou à nossa consciência, aos valores humanos de compaixão para com o próximo - os funcionários não recebem um reajuste há tanto tempo, tadinhos... - e todo tipo de baboseira. E, acredite, por um momento eu me deixei levar.
Na verdade, essa crise de consciência não foi só na “Assembléia”. A minha dimensão esquerdista chegou a me recriminar algumas vezes por ser contra essa greve, por visar o meu bem-estar em detrimento de uma causa maior, enquanto os servidores reivindicam, através de um meio supostamente legítimo, um "merecido" reajuste salarial. Afinal, eu e muitos outros estudantes que dependemos dos serviços dos funcionários só estamos tendo que fazer caminhadas involuntárias de mais de uma hora ao todo e gastar mais dinheiro e tempo com a nossa alimentação, sem contar custos de outra ordem. Mas isso foi até eu pesquisar mais sobre o assunto e descobrir, mais uma vez, que no mundo real não há espaço para maniqueísmos, que por si só são simplistas - o Rodas pode não ser o mauzinho da história; os funcionários não ganham mal, aliás recebem mais que a média dos funcionários no Brasil; princípios democráticos têm sido proferidos a esmo e de maneira hipócrita nas tentativas de legitimar a greve; há motivos eleitoreiros envolvidos -, e perceber pelas discussões na Internet que de fato é uma minoria na USP que apóia a famigerada e banal greve.
Uma reflexão que faço é que grupos (Sintusp, DCE) ou indivíduos mal intencionados dentro da universidade, geralmente envolvidos com partidos políticos nanicos de extrema esquerda (PSOL, PSTU), tidos como de direita por alguns estudantes da FFLCH [rs], só têm a ganhar com a alienação e a inércia dos estudantes. Normalmente nós ficamos tão presos à vida acadêmica (ou ao nosso umbigo) que nos tornamos alheios aos acontecimentos os quais se dão para além dela, apesar deles terem um impacto direto no nosso cotidiano, e não nos damos conta de que essa greve pode não constituir uma causa maior – como seus partidários gostam de acreditar, porque assim a querem -, mas a de alguns indivíduos, como os clamores nos cartazes colados por toda cidade universitária dão a entender ao fazerem referência à reintegração do companheiro Brandão, em meio a outras reivindicações não concernentes aos funcionários como um todo. Além disso, nós não os vemos se mobilizando em peso na USP (se é que você pode chamar churrascos regados à cerveja de mobilização), o que também sugere que essa causa é de poucos.
Eu queria entender melhor o que leva alguns estudantes a aderirem a movimentos alheios loucamente, mesmo quando eles os prejudicam e representam uma facção de caráter duvidoso, liderada por um comunista trotskista que acredita na implantação do comunismo por meio da violência, ao mesmo tempo que defende o respeito à democracia nos seus discursos. Não sou tão ingênuo; pretensões políticas e de outra natureza (recreativa, por exemplo) constituem motivos fortes. Mas acho que um idealismo genuíno, aliado à síndrome do bom burguês, em alguns casos colabora. Daí tiro outra reflexão, que sintetiza o meu aprendizado: ser a favor de uma causa que te prejudica diretamente não te torna mais honorável ou nobre, mas sim tolo; em outras palavras, quem se anula é otário mesmo, tá cerrrto?
Roger Lai
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sábado, 19 de junho de 2010
Caem as máscaras
“Dissipar a ilusão significa tirar o sentido do drama inteiro. O que prende os olhares dos espectadores é justamente a ficção, o truque. Toda vida humana nada mais é do que um espetáculo em que, um com uma máscara, outro com outra, cada qual recita seu papel para, a um sinal do chefe do coro, sair de cena”
Erasmo de Roterdã
O processo de identificação de estruturas como razões fundamentais para o comportamento humano, muitas vezes sintetizado na visão determinística, estritamente associada ao conceito do ambiente como modelador indiscutível da personalidade humana, ganhou destaque no pensamento sociológico especialmente no fim do século XIX e no decorrer de seu subseqüente. O pensar e o agir do ser humano, muito mais do que manifestações de um suposto livre-arbítrio, estariam de tal forma associadas a contextos externos a eles que mesmo a idéia de liberdade seria constantemente colocada à prova: Até que ponto somos livres? Fazemos nossas próprias escolhas ou apenas confirmamos modelos pré-determinados de acordo com os contextos em que estamos incluídos – quem sabe inevitavelmente submersos?
É certo que a análise histórico-psicológica não nega a influência do meio como fator fundamental na tomada de decisão por parte de diferentes grupos: a paranóia anticomunista materializada no McCartismo, o qual mobilizou a população americana em uma cruzada de perseguição implacável à “ameaça” marxista, exemplifica o quanto a bipolarização político-ideológica do período de Guerra Fria foi capaz de criar um ambiente de pressão psicológica coletiva, onde vizinhos, parentes ou quaisquer outros indivíduos que se mostravam propensos à subversão eram denunciados, investigados e mesmo até compelidos ao suicídio – tudo isso na “terra da liberdade”. Contudo, o pensar deterministicamente, muito mais do que um instrumento para a compreensão pontual de eventos históricos, é constantemente utilizado como esteio fundamental de todo o conjunto de ações perpetradas pelo ser humano, negando-lhe, de certa forma, responsabilidade sobre elas: apóia-se no argumento supostamente absoluto de que o indivíduo foi influenciado por contingências irresistíveis do meio ao qual ele provém ou está inserido, esquecendo-se do quanto temos vontades, medos, ambições, em suma, que somos humanos, movidos por anseios, interesses, paixões próprias. Culpar o meio, seus componentes e características, não é só resultado da vontade de se eximir da culpa, mas também um confortável apoio sob o qual repousamos, por vezes, nossa consciência, certos de encontrar ali consolo para nossas falhas.
Exemplo importante nesse sentido, nossas relações interpessoais e seus aspectos mais escusos já foram, freqüentemente, envoltos por diferentes véus que procuraram, insistentemente, deslocar o foco da culpa para um suposto “sistema”: os alvos favoritos são as exigências de uma sociedade de consumo, a competição desmedida a qual nos é imposta dia após dia e, finalmente, o capitalismo, bode expiatório de todos os flagelos. Olvidamo-nos da nossa responsabilidade indiscutível na gênese de tais fatores de pressão: somos nós os criadores desse meio, desse ambiente que nos oprime em direção a ações de mérito discutível, e é precisamente por essa razão que ele é tão avassaladoramente forte; são elementos internos, intrinsecamente humanos, e não externos, os quais são conseqüências daqueles, que constituem fundamentalmente nossas escolhas, nosso ser e dever-ser.
A carência de transparência e sinceridade em diversas relações humanas, tão agudamente percebida ao longo dos séculos por um sem-número de filósofos, sociólogos e psicólogos, é um modesto mas esclarecedor viés de tal discussão: é freqüente que indivíduos se relacionem de forma diferenciada com distintas pessoas, na medida em que tal relação afeta, de alguma maneira, seus interesses. Dança-se um luxuoso baile de máscaras, em que os participantes, certos de sua esperteza sem igual, escondem suas verdadeiras personalidades por detrás de disfarces cada vez mais sofisticados, justificando-se como atendendo às contingências, novamente irresistíveis, de um meio esmagador e cruel. Monta-se, desfruta-se de uma ficção, mas não por necessidade, senão por vontade: a ilusão é infinitamente mais sedutora que a realidade. Até que as máscaras imiscuem-se cada vez mais com as faces, fundindo-se a elas, perdendo-se a referência, a diferença entre personalidade e máscara, realidade e disfarce. E então, em meio ao farfalhar das fantasias, aos acordes da incansável orquestra e ao brilhar ofuscante do salão, ergue-se uma voz, consciente, consciência, a perguntar: No que nós nos transformamos?
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sexta-feira, 18 de junho de 2010
Minha carta para Hogwarts, cadê?
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quarta-feira, 16 de junho de 2010
A tese de Ivan Karamazov
Comecemos por um simples experimento de pensamento. Suponha que Deus apareça para você e lhe ordene que mate seu pai (ou mãe, ou filho, não importa). Sua primeira reação, como a minha, seria a de duvidar do que estaria acontecendo. E isso por duas razões: primeiro, porque Deus não costuma aparecer para nós, pelo menos não atualmente; segundo, e mais importante, porque Deus, fonte de todo o bem, estaria lhe ordenando para fazer uma coisa má. Algo, sem dúvidas ou receios, errado. Pensaria, portanto, ser aquilo um delírio, ou tratar-se de um impostor- talvez o Diabo. Não acreditaria, enfim.
Suponhamos, então, que por uma razão inconcebível, você tivesse certeza que era Deus. De uma maneira inexplicável, você soubesse que Ele estava ali. Creio que, assim como eu, você, leitor, ainda assim não mataria seu pai (ou mãe, ou filho). Digo mais: não mataria sequer um estranho. Por quê? Porque seria errado. E não o seria devido aos mandamentos que o próprio Deus decretara, uma vez que, ao lhe ordenar tal atrocidade, Ele mesmo os estaria revogando. Seria errado, pois, independente de qualquer mandamento, matar uma pessoa é errado. Assim, mesmo que Deus não exista, é errado matar uma pessoa. O primeiro passo foi então dado: nem tudo é permitido, ainda que Deus não exista. Tal passo, além de fundamental para quebrar a tese de Karamazov, também contraria uma das ideias principais de Sartre. O filósofo, ao propor que nossa grande tragédia seria o fato de Deus não existir, supunha ser tudo permitido. Estaríamos, portanto, condenados à liberdade e teríamos de responsabilizar-nos por todos os nossos atos. De fato, a ideia da “estarmos condenados a ser livres” está já desfeita.
Muitos, nesse ponto, com certeza lembraram-se da Bíblia (Gn,22): Abraão, após ter recebido ordem de Deus, pega a faca para sacrificar seu filho primogênito, quando é impedido por um anjo, enviado por Deus. Óbvio que, como sabemos, tal passagem retrata um teste pelo qual Abraão teria de passar para provar sua fé em Deus. Do ponto de vista estritamente ético, entretanto, não se justificaria a prontidão de Abraão. A fé- superior à ética, por constituir uma relação individual e absoluta com Deus- justifica a atitude de Abraão. Fica claro, assim, que graças à religião, a esfera da ética é relativizada pela da fé.
Chegamos, agora, ao segundo passo: a tese de Karamazov deve, na verdade, ser invertida. De fato, não só não é verdade que, se Deus não existe, tudo é permitido- já que nosso experimento mostrou que não é permitido matar-, mas, ao contrário, é se Deus existir que tudo se torna permitido.
Longe de ser o fundamento da ética, a fé em Deus é a condição de relativizar e, no limite, negar a ética. Isso lembra as palavras do físico norte-americano Steven Weinberg, detentor do Prêmio Nobel de Física: “Com ou sem religião, as pessoas bem-intencionadas farão o bem e as pessoas mal-intencionadas farão o mal; mas, para que as pessoas bem-intencionadas façam o mal, é preciso religião.”.
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Para além do Bem e do Mal
"Além disso, o inimigo começou a empregar uma nova e terrível bomba, cujo poder de destruição incalculável tem tirado a vida de muitos inocentes. Se continuássemos a lutar, isso não apenas resultaria no colapso final e na obliteração da nação japonesa, mas também levaria à extinção total da civilização humana"
Hirohito
Il Gattopardo, romance ímpar do italiano Tomasi de Lampedusa tem como âmago a trajetória de Dom Fabrizio Corbera, decadente nobre do Risorgimento retratado em sua constante derrocada como aristocrata diante das novas forças da burguesia republicana italiana. Estupefato, ele se agarra desesperadamente a prerrogativas já perdidas, ao mesmo tempo em que o casamento do sobrinho com a filha de um emergente comerciante demonstra que, a despeito dos tradicionalismos, a única maneira de sobreviver é encarar e entender a realidade, para só assim modificá-la em seu benefício. No nobre italiano, discerne-se um notável paralelo com a realidade internacional atual: é indubitável que à era da hegemonia norte-americana segue-se, atualmente, um novo período de multilateralismo, mais e mais evidente na incapacidade americana de lidar com os desafios políticos e econômicos de um mundo que reluta cada vez mais em identificar na bandeira americana uma liderança incontestável no cenário internacional. Prova maior da inépcia e ilusão acerca da liderança da flâmula ianque, a desastrosa política estadunidense com o Irã nega-se a entender a patente verdade e, tal como o nobre siciliano, encontrar vias de trabalhá-la, no caso, a favor da estabilidade geopolítica da conturbada região do Oriente Médio.
É tradicional a manutenção, em diversos níveis acadêmicos, de uma série de preconceitos e visões parciais sobre a realidade em países que fogem à órbita ocidental tradicional, especialmente os de tradição persa e árabe, colocados sob o mesmo rótulo do islamismo. Vamos aos fatos. O Irã, país que tem em sua origem a Pérsia, é um país de cada vez maior relevância no cenário econômico local: de 2004 a 2008 o PIB iraniano cresceu, em média, 3,42%. Dos seus 72 milhões de habitantes (cuja expectativa de vida é 71 anos), 82,3% são alfabetizados. As previsões econômicas, de forma geral, indicam maior dinamismo comercial com os vizinhos, bem como ampliação da influência regional, o que chama a atenção para o aspecto geopolítico iraniano. O país possui fronteiras, a oeste, com o Iraque, invadido por tropas norte-americanas, e a Turquia; a leste, com o Paquistão (detentor de artefatos atômicos), o Afeganistão (outro país sob ocupação americana); e, ainda, encontra-se nas proximidades de Rússia, China e Israel, três Estados que, comprovadamente, são detentores da bomba nuclear. Evidencia-se, assim, a complexa situação geopolítica na qual o país se encontra inserido, cercado por países com grande potencial destrutivo e, alguns deles, dominados pelo maior rival político iraniano, os Estados Unidos. É patente, nesse contexto, a urgência de procurar e desenvolver a tecnologia nuclear como poderoso instrumento de barganha local, sendo condição indispensável para sua desejada emersão como potência regional. Tais elementos são, até certo ponto, inerentes ao fato de o governo ter caráter autoritário e teocrático: mesmo as mais límpidas democracias, a exemplo de Israel, procuraram o refúgio nuclear em contextos semelhantes.
Por outro lado, a análise da situação nuclear iraniana atual demonstra com clareza os avanços já realizados nesse campo: para muitos especialistas, trata-se de uma questão de tempo – relativamente pouco, aliás – para que a nuclearização do país torne-se uma realidade, a despeito dos esforços internacionais. Nesse sentido, vale o comentário da clara ineficiência da nova (e das que porventura vierem) rodada de sanções da Organização das Nações Unidas. Historicamente, o mecanismo de isolamento via restrições econômicas raramente é eficaz, tendo em vista seu alcance limitado, por um lado, pelos interesses comerciais que certas potências, como a China, possuem com o país e, por outro, pela dificuldade da aplicação efetiva de tais medidas em um mundo onde as trocas econômicas adquiriram caráter cada vez mais dinâmico.
O cenário claramente desenhado pelas circunstâncias supracitadas não deixa dúvidas: a união da necessidade, nos conceitos de razão de Estado, para a ascensão do Irã como potência a nível local, com a possibilidade técnica para a produção de artefatos nucleares, elucida que não obstante os esforços internacionais, um Irã atômico é uma mera questão de tempo. Agarrar-se à cartilha wilsoniana da segurança coletiva não só é uma perda preciosa de tempo e de esforços: é também um perigoso instrumento de isolamento de um país que, cedo ou tarde, tornar-se-á detentor de armamentos de desmedido poder destrutivo.
O momento atual seria, dessa forma, muito mais proveitoso se utilizado para abrir canais de comunicação, formas de retirar o Irã do auto-isolamento e colocá-lo na mesa de negociações. A concretização da experiência nuclear iraniana tornará o equilíbrio político do Oriente Médio uma questão ainda mais delicada e predisposta a catástrofes: trabalhar com os novos aspectos desse equilíbrio que surgirá com a emergência dessa nova potência nuclear não é só uma proposta importante, mas a única opção no presente momento e no futuro, caso se queira evitar uma guerra de grandes proporções na região. A ameaça do cataclismo atômico, nesse sentido, suplanta até mesmo as críticas de violações de direitos humanos: há de se conversar para evitar uma tragédia ainda maior. Para além do Bem e do Mal, há uma realidade ali e, tal como Dom Fabrizio no século XIX, resta-nos encará-la, entendê-la para só assim modificá-la.
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DÍVIDA PÚBLICA EM POUCAS PALAVRAS, O QUE É?
Assim como as pessoas, em uma dada quantidade de tempo, os países arrecadam fundos. As pessoas trabalham e mensalmente recebem um salário, como normalmente ocorre. Já os países, arrecadam fundos com base nos impostos cobrados de sua população, em um ano, por exemplo, recebem uma quantidade X de dinheiro. As pessoas usam seus salários, como a arrecadação dos países, para gastos pessoais, como: alimentos, vestimentos, entretenimento, educação ou saúde, entre outros. Os países utilizam suas arrecadações (obtidas através de impostos) da mesma maneira que as pessoas utilizam seus salários (obtidos através do trabalho, na maioria das vezes). Apesar dos países possuírem um escopo maior de frentes para gastarem os fundos recebidos, em geral, ele é utilizado da mesma maneira que as pessoas utilizam seus salários; porém, de uma forma que beneficie, em tese, a todos os cidadãos, os chamados bens públicos. Os gastos feitos pelos governos dos países vão para: saúde, educação, cultura, entretenimento, etc. Ou seja, pode-se fazer uma analogia entre países e pessoas, sendo que o primeiro é o segundo em dimensões centenas de vezes maiores.
As pessoas costumam poupar o dinheiro arrecadado nos salários para ser usado mais tarde. Por exemplo: uma pessoa pode receber R$ 5.000 e gastar somente R$ 3.000, ela terá R$ 2.000 sobrando para ser poupado. Assim também podem fazer os países. Porém, para ambos os atores, tal poupança normalmente é bem improvável, geralmente ocorre a dívida, gerada pelos déficits.
Déficit orçamentário é a situação cuja arrecadação é bem menor que o gasto. Por exemplo, utilizando o exemplo da pessoa acima, supondo que ela gaste R$ 6.000, ela terá um déficit de R$ 1.000. Logo, ela estará devendo R$ 1.000. Isso também ocorre com países, quando isto ocorre, chamamos de déficit do orçamento de um governo em um dado período de tempo. O que diferencia a dívida do déficit é que a primeira é a soma de todos os déficits. Quando alguém, uma pessoa ou um país, está em devendo uma quantidade de dinheiro, ela/e precisará pagar tal dívida o quanto antes possível, pois alguém estará esperando receber pelo bem/serviço que forneceu a este devedor. Se tal pessoa/ país não saldar tal dívida, ela será taxada de inadimplente, e não terá mais confiança na hora de gastar seus fundos. Caso essa pessoa/ país pagar sua dívida, será cobrada uma taxa de juros proporcional ao tempo em que está dívida existiu, se tal dívida perdurou por 30 dias, será cobrado uma porcentagem de juros proporcional a esses 30 dias.
Voltando ao caso da poupança, usando o mesmo exemplo da pessoa que provavelmente poupou R$ 2.000. O que ela faria com esse dinheiro poupado?
Existe o chamado mercado financeiro, que é composto pelas pessoas que poupam e aquelas que necessitam de mais dinheiro. Aquelas que poupam, colocarão seu dinheiro à disposição daqueles que precisam de mais, nas chamadas poupanças – ou em outros meios de investimento, gerando aos poupadores um rendimento extra, uma porcentagem específica em cima do que elas disponibilizaram. Tal rendimento é gerado em cima dos juros cobrados dos devedores. A lucratividade das casas bancárias que oferecem a poupança, entre outros meios de investimento, ocorre graças a diferença entre os juros cobrados em cima dos devedores e aquele dado aos poupadores. Graças aos poupadores, um artista plástica recém-formado que gostaria de abrir seu ateliê poderá recorrer às casas bancários e pedir um empréstimo, que gerará a este uma dívida, a fim de que ele possa construir seu ateliê e saldar tal dívida posteriormente, com os devidos juros, à medida que seu ateliê gere lucratividade.
Voltando aos países, que nos é mais interessante, os países que poupam poderão disponibilizar seu excedente àqueles que precisarem de investimentos (tanto pessoas quanto países), gerando ao governo um rendimento, e possibilitando que a economia de tal país poupador cresça; tendo em vista o crescente investimento de capital poupado. Já os países em déficit e endividados poderão recorrer a empréstimos a fim de saldar suas dívidas, tais empréstimos podem vir de várias maneiras, tanto internamente quanto externamente. Externamente, que não é nosso foco, poderá ser feito em organizações, bancos ou fundos internacionais, como o FMI, ou bilateralmente com outro país poupador. Tal empréstimo externo ocorrerá da maneira comum, com um juros específico, e a ser saldado mais tarde, com as devidas especificidades. Já internamente, nosso foco, ocorrerá pela venda de títulos públicos, onde um governo vende títulos aos seus cidadãos (também a estrangeiros), pegando um quantia específica de dinheiro emprestado de um dado cidadão (normalmente a quantia que esse compra do título, por exemplo, os R$ 2.000 do exemplo acima) e se comprometendo a pagá-lo mais tarde, com uma taxa de juros também determinada (pelos bancos centrais, por exemplo, de 10% ao mês). No entanto, se endividar nunca é uma boa opção, deve-se fazer um trade-off entre se endividar ou cortar gastos, ou entre se endividar ou imprimir mais dinheiro, gerando uma inflação. O endividamento leva uma queda no crescimento.
Vemos assim, que os países, assim como as pessoas, podem negociar seu capital excedente no mercado financeiro e, assim que necessário, pedir emprestado mais capital para usá-lo assim como necessitar. No entanto, tal questão gera muitos problemas e polêmicas atualmente, a exemplo, os países largamente endividados da União Europeia ou da África. Qual será o papel dos banqueiros frente a tais dívidas? Quem se beneficiará com o grande endividamento de países? Como os cidadãos poderão alocar seus recursos frente uma grande dívida do governo? Entre muitos outros.
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Texto desenvolvido para o trabalho da professora Maria Antonieta del Tedesco Lins. Um texto mais sério e educativo - a La Maniw, comparando-se com as crônicas que eu possuo aqui e tenho preguiça de digitar.
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terça-feira, 15 de junho de 2010
Feijoada búlgara (Ou Maldita Vuvuzela!)
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OBS: Eu não sou um grande fã de futebol, nem mesmo na copa do mundo, período que parece ter uma certa magia e fazer com que mesmo aqueles que nunca tiveram paciência para ficar durante quase duas horas sentados assistindo à batalha entre dois times para colocar a dita bola na rede do adversário acompanhem os resultados de uma profusão de jogos e torça de forma acalorada por seu país. De forma alguma critico essa atitude, eu mesmo acabo me informando sobre os tais jogos da copa porque afinal de contas em época de copa não existe falta de assunto, é só virar pro desconhecido ao seu lado e falar "e esse jogo ein?" para que a conversa seja entabulada como se os dois fossem ótimos amigos numa mesa de bar. Mas o fato é que essa copa da África do Sul trouxe novidades no quesito torcida fanática. Se você não sabe do que eu estou falando, caro leitor, consulte aquela que sabe de todas as coisas, mas não merece confiança alguma, a Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vuvuzela
Sim, sim, meu caro, tudo isso pra falar da maldita vuvuzela. Eu poderia dizer que não existe razão pra que chamemos o tal aparelho por esse nome, afinal nós temos uma palavra que serve muito bem: corneta; mas não vou fazer isso, estrangeirismos enriquecem a linguagem, apesar de não acreditar muito nos que dizem existir uma diferença muito grande entre a nossa tradicional corneta e a tal da vuvuzela. Mas, se você der uma olhada perspicaz no assunto vai perceber que o motivo é outro. Vuvuzela é uma palavra engraçada, daquelas que grudam na sua cabeça feito chiclete no cabelo, por mais que os comediantes stand up já tenham percebido o potencial pornográfico da palavra. Em contrapartida corneta não é nada engraçada e não se precisa ser comediante para fazer algumas correlações.
Se você leu o oráculo deve ter percebido que todos temos motivos muito mais sólidos para não gostar do objeto, e se você já foi vitima de uma nas imediações do seu campo auditivo CERTAMENTE já percebeu. Torcer de uma forma alucinada que se aproxima à loucura é perdoável, deixar o coleguinha do lado zonzo por causa da sua "corneta" é pedir para que associações sejam feitas, e não necessariamente de palavras.
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Espero que tenham gostado e até a próxima!
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domingo, 13 de junho de 2010
Loucos, sãos, Israel
De fato, nada seria pior para os israelenses do que se o Irã conseguisse armamento nuclear. E não é que o ataque israelense também conseguiu, além de isolar o país internacionalmente, adiar a votação das sanções para o vizinho muçulmano? Ou seja, não há definição melhor para o ato do que burrice; insanidade chega perto, mas creio que nem um louco conseguiria acarretar tantas consequências negativas para si em um só ato.
Não sei quantos sabem, portanto irei reproduzir aqui trecho de notícia que saiu no jornal Folha de São Paulo em 1º de Junho, terça feira. O contexto é a chegada dos navios ao porto de Ashdod. “O trabalho dos jornalistas atraiu centenas de moradores, a grande maioria identificada com a direita nacionalista. (...) No meio da agitação nacionalista, duas jovens com as cabeças cobertas com véus, facilmente identificáveis como árabes, circulavam com ar tímido. Logo foram abordadas pelos manifestantes, que as cercaram sob um coro de insultos. (...) Após observar passivamente o assédio que sofriam, policiais tiveram de acompanhá-las, para que não fossem agredidas. O ímpeto nacionalista também atingiu uma equipe da rede de TV qatariana Al Jazeera, cujo repórter, ao vivo, teve a voz abafada pelos manifestantes, jovens e idosos. ‘Morte aos árabes’, gritavam.”.
“Se Israel tem a bomba e o Irã não, se Israel ataca pacifistas estrangeiros e o Irã não, se Israel não ouve ninguém para decidir atos assim e o Irã pelo menos tenta um acordo”, será que não seria cabível propor sanções também a Israel? Já há quem defenda, inclusive, o direito do Irã de enriquecer urânio e assim se proteger de radicais israelenses. Não vou tão longe, mas defendo, sim, o direito, não só do Irã, mas do mundo inteiro, de viver em um mundo sem armas nucleares; ou seja, um desarmamento completo.
É nessa direção que caminha a revisão do TNP. Alguns pontos acertados: a)Oriente Médio: convocação para 2012 de conferência sobre “zona livre da bomba” no Oriente Médio; reafirma importância de Israel aderir ao TNP e pôr instalações nucleares sob salvaguardas da AIEA; pede que Índia, Paquistão e Israel suspendam desenvolvimento de arsenais e adiram ao TNP e b) Desarme nuclear: fase final do desarme deve ter “moldura legal”(não ser baseada apenas em medidas voluntárias); potências devem relatar até 2014 avanços à comissão preparatória da revisão de 2015; reafirma necessidade de “irreversibilidade” do desarme.
Bom, por fim, para voltar ao assunto “lunáticos”, o time marcou mais um ponto: segundo Ri Jang-gon, embaixador-adjunto norte-coreano perante a Conferência de Desarmamento da ONU “a situação na península coreana está ‘tão grave’ que uma guerra pode começar ‘a qualquer momento.’”. Não satisfeito, adicionou: “as tropas norte-coreanas estão sob alerta total e preparadas para reagir prontamente a qualquer retaliação, inclusive a guerra”. E para completar a felicidade dos loucos de plantão o secretário de Defesa americano, Robert Gates, disse que os EUA estudam realizar exercício militares extras com a aliada Coréia do Sul em breve. Haja mundo para suportar a tanta vontade de fazer a guerra. Parece, de fato, que os mais lúcidos atualmente são Brasil, Turquia e Irã, que buscam o diálogo e o acordo de maneira exemplar.
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