domingo, 13 de junho de 2010

Loucos, sãos, Israel

Às vezes, penso o que se passa na cabeça dos governantes; eles só podem ser loucos. Afinal, o que explicaria o ataque israelense, em águas internacionais, à flotilha que levava ajuda humanitária à Gaza? Se a intenção fosse por o mundo inteiro contra si, vá lá, mas creio que os israelenses valorizam, e muito, o apoio da comunidade internacional; principalmente num momento de crise no Oriente Médio.

De fato, nada seria pior para os israelenses do que se o Irã conseguisse armamento nuclear. E não é que o ataque israelense também conseguiu, além de isolar o país internacionalmente, adiar a votação das sanções para o vizinho muçulmano? Ou seja, não há definição melhor para o ato do que burrice; insanidade chega perto, mas creio que nem um louco conseguiria acarretar tantas consequências negativas para si em um só ato.

Não sei quantos sabem, portanto irei reproduzir aqui trecho de notícia que saiu no jornal Folha de São Paulo em 1º de Junho, terça feira. O contexto é a chegada dos navios ao porto de Ashdod. “O trabalho dos jornalistas atraiu centenas de moradores, a grande maioria identificada com a direita nacionalista. (...) No meio da agitação nacionalista, duas jovens com as cabeças cobertas com véus, facilmente identificáveis como árabes, circulavam com ar tímido. Logo foram abordadas pelos manifestantes, que as cercaram sob um coro de insultos. (...) Após observar passivamente o assédio que sofriam, policiais tiveram de acompanhá-las, para que não fossem agredidas. O ímpeto nacionalista também atingiu uma equipe da rede de TV qatariana Al Jazeera, cujo repórter, ao vivo, teve a voz abafada pelos manifestantes, jovens e idosos. ‘Morte aos árabes’, gritavam.”.

“Se Israel tem a bomba e o Irã não, se Israel ataca pacifistas estrangeiros e o Irã não, se Israel não ouve ninguém para decidir atos assim e o Irã pelo menos tenta um acordo”, será que não seria cabível propor sanções também a Israel? Já há quem defenda, inclusive, o direito do Irã de enriquecer urânio e assim se proteger de radicais israelenses. Não vou tão longe, mas defendo, sim, o direito, não só do Irã, mas do mundo inteiro, de viver em um mundo sem armas nucleares; ou seja, um desarmamento completo.

É nessa direção que caminha a revisão do TNP. Alguns pontos acertados: a)Oriente Médio: convocação para 2012 de conferência sobre “zona livre da bomba” no Oriente Médio; reafirma importância de Israel aderir ao TNP e pôr instalações nucleares sob salvaguardas da AIEA; pede que Índia, Paquistão e Israel suspendam desenvolvimento de arsenais e adiram ao TNP e b) Desarme nuclear: fase final do desarme deve ter “moldura legal”(não ser baseada apenas em medidas voluntárias); potências devem relatar até 2014 avanços à comissão preparatória da revisão de 2015; reafirma necessidade de “irreversibilidade” do desarme.

Bom, por fim, para voltar ao assunto “lunáticos”, o time marcou mais um ponto: segundo Ri Jang-gon, embaixador-adjunto norte-coreano perante a Conferência de Desarmamento da ONU “a situação na península coreana está ‘tão grave’ que uma guerra pode começar ‘a qualquer momento.’”. Não satisfeito, adicionou: “as tropas norte-coreanas estão sob alerta total e preparadas para reagir prontamente a qualquer retaliação, inclusive a guerra”. E para completar a felicidade dos loucos de plantão o secretário de Defesa americano, Robert Gates, disse que os EUA estudam realizar exercício militares extras com a aliada Coréia do Sul em breve. Haja mundo para suportar a tanta vontade de fazer a guerra. Parece, de fato, que os mais lúcidos atualmente são Brasil, Turquia e Irã, que buscam o diálogo e o acordo de maneira exemplar.

2 comentários:

  1. Pessoalmente, eu achei genial a estratégia dos "flotilheiros". Uma charge divulgada no Estadão ilustra muito bem a nova modalidade de conflito: um soldado, agachado, segurando uma câmera apoiada no ombro, como se segurasse uma bazuca.

    Armas que não mais disparam, e sim capturam; não mais tiros: desta vez imagens. Os integrantes da flotilha já foram para a ação pesadamente munidos de câmeras, notebooks e celulares, e instantes depois do incidente já havia ampla divulgação na internet. E Israel, com a truculência de suas armas, acuado pelas reações da opinião pública, tentando (com pouco êxito) mostrar também sua versão da história.

    As histórias costumam ter três versões: a minha, a sua, e a verdade. Quem tem razão nessa história, é um outro assunto; dessa vez, porém, Israel cometeu uma presepada diplomática, e as lentes não perdoaram!

    Legal a iniciativa, Gaga, continue escrevendo!

    bons ventos,

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