sexta-feira, 30 de julho de 2010

A ambrosia do século vinte e um

Eu, a exemplo de alguns outros colegas recém-blogueiros, também divaguei um pouco sobre o conteúdo das minhas postagens por aqui. Pensei em escrever sobre política, mas a MH me lavou o cérebro de tal modo que quando falo de política, me sinto trabalhando e, convenhamos, estou de férias. Pensei em abordar temas polêmicos (olha eu, separando política de polêmica!), mas o que quer que dissesse seria ofuscado pelos textos melhor articulados dos meus colegas. Então quem sabe fosse escrever contos ou poesias, mas lembrei que me falta a criatividade ficcional e a coerência estética. Decidi por fim escrever sobre o que me vier à cabeça, e desde já peço perdão por isso. Minha cabeça é imprevisível, inconstante, revoltosa, anárquica (como o sistema de Estados - sai MH!!) e por vezes obscena, mas com alguma sorte e muita dedicação, ela pode ser domada para formular bobagens inofensivas como a que vem a seguir.

Esses dias andava eu, displicentemente no banco de trás do carro - lugar dos que não querem nada da vida -, quando vi anunciando numa placa chamativa em frente ao que agora creio que fosse uma loja de cosméticos: “Temos RAÇÃO HUMANA!” (com o devido destaque). A princípio achei engraçado, cada coisa que inventam, deviam demitir já o responsável, tem uma ideia pra cada doido no mundo. O problema foi a proliferação da expressão: aquele fenômeno que só acontece quando você nunca ouviu falar de algo curioso e basta ver a primeira vez para encontrar em todo lugar. E o pior, logo depois você se dá conta de que o problema era com você: assombrosamente todos já tinham ouvido falar disso. Foi só quando eu vi estampado em uma dessas revistas de quinta categoria, que por acaso estava ao meu lado em um momento de ócio, que veio curiosidade e disposição suficientes pra me familiarizar com o assunto.

A tal ração humana consiste no resultado da mistureba no liquidificador de delícias como trigo, linhaça, aveia e gergelim: deve-se restringir o café-da-manhã (e o jantar, para uma ação mais efetiva, afinal quem está na chuva é para se molhar) a jogar goela abaixo a diluição de duas colheres de sopa do preparado com leite. Desnatado, claro. A promessa é “secar até 8 quilos em um mês”. Logo se nota que é uma dieta mirabolante não diferente de muitas outras, vindo à memória ecos daquelas propagandas da Polishop nas altas madrugadas. Contudo, a impressão que me deu foi que esta prática vem sendo mais levada a sério que o normal e está se tornando cada vez mais popular. E a grande diferença, peculiaridade que me chamou a atenção desde o início, é que o nome vai direto ao ponto.

Sem enrolações, sem cortinas de fumaça, tucanagens ou eufemismos. É a ração humana. A animalização daqueles que se submetem a insanas torturas estéticas é, finalmente, oficial. Não há esforço do marketing, talvez pela primeira vez na história das vendas baratas, para atrair o consumidor com devaneios de que a compra a ser realizada é especial, fina: aquilo não passa de ração. Talvez seja mera humilhação sádica dos vendedores. Já que o que não falta são clientes para produtos de magreza, vamos fazê-los rastejar por eles. Pensando bem, provavelmente não é isso, já que capitalistas são bonzin... Já que capitalistas querem o máximo de público. Bom, deve ser só um nome de produto facilmente memorizável.

E como é notável! Extasiemo-nos! É o auge da honestidade corporativista! Quem segue dieta sujeita-se a sacrificar o próprio paladar para emagrecer. E se é assim, por que se enganar rotulando a alimentação industrialmente balanceada de qualquer outra coisa que não ração? Afinal, você permite que outros decidam o que é bom para você (é a felicidade fabricada) - assim como o ser humano faz com seu cachorro. Ó, plebeu, entenda: quando você diz estar acompanhando a dieta com o Max Emagreceitor Bündchen 2000, sabemos que no fundo você quer usar aquelas cinco letrinhas. Entendemos, e lamentamos. Palmas para os inventores: além de sinceridade, trouxeram aceitação para os pobres coitados que correm atrás para ser o modelo ideal de pessoa.

Tudo, claro, é proveniente daqueles velhos parâmetros da sociedade a que todos supostamente devemos nos adequar. Alguém ao seu lado, de cima, de fora dizendo: você deve ser assim (até que a voz começa a vir de dentro). Não quero descambar para o lado clichê de mostrar a óbvia e patética preocupação da sociedade com a imagem, mas não deixa de impressionar o quanto as pessoas decidem sacrificar do próprio agrado para dedicarem-se a serem agradáveis para os outros. A auto-estima ferida funciona como um ralo, e drena cada vez mais de um corpo e mente perfeitamente normais, quando a pessoa decide impor-se penitências e, julgando-se indigna, exterminar luxos que traziam deleite. O prazer da refeição é ignorado em prol dos objetivos puramente biológicos: se seu corpo obtém todas as vitaminas necessárias e todos os nutrientes recomendados, você deveria estar satisfeito. Não critico que as pessoas procurem ser mais saudáveis, contudo questiono quanto do carpe diem elas estão dispostas a defenestrar nessa viagem.

Nos filmes e livros futuristas, desde os mais pessimistas até as historinhas do Astronauta do Mauricio de Sousa, é frequente a preocupação em retratar a substituição da comida por produtos sintéticos. O paladar é desprezível por fugir do racional. De fato, se for esse o prisma considerado, acabamos de dar mais um passo em direção a esse admirável mundo novo.

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sábado, 24 de julho de 2010

Feijoada bulgara (Ou As coisas seguem caminhos tortuosos)

Por Emannuel K.
O nome sempre me parecera incomum. Era aquele tipo de nome que você sabe que existe, mas nunca tive a oportunidade de alguma vez encontrar alguém que o tivesse. Era, portanto, quase que um mito. Mas as coisas seguem caminhos tortuosos. Mais cedo ou mais tarde eu teria que conhecer alguém com esse nome, e de fato encontrei. Então as coisas mudaram um pouco. Agora, sempre que uma atendente de telemarketing me telefonava, era uma com o nome dela, sempre que andava de ônibus ou metrô ouvia o nome dela na conversa de outros passageiros, descobri que o nome da mãe de uma grande amiga era o mesmo nome dela, ou que minha própria mãe faz amizade com uma mulher com o mesmo nome dela. Agora quando baixo um disco é quase certo que, sem que eu saiba, uma das músicas tenha o nome dela, ou alguma variante próxima, agora as personagens de alguns dos filmes que eu mais gosto de ver tem personagens com o nome dela. O nome me persegue, e o faz não por forças do acaso, mas o faz por sua dona. Em condições como essa era de se esperar que fossem apenas duas as possibilidades: ou eu a odiaria ou a amaria. Mas desde pequeno fui educado para não odiar, esse é um sentimento muito ruim e muito forte, e por mais que valha a pena experimentar todos os sentimentos, alguns não compensam mais do que isso. Portanto, me apaixonei. Ou melhor, muito antes disso começar já estava apaixonado. Exatamente quando pensava em deixar de lado, partir pra outra, achar coisa melhor pra fazer, o nome começou a me perseguir, e não consigo parar de pensar nele, volta sempre que estou prestes a me deixar levar.
***
Eu não voltava para minha terra natal a aproximadamente um ano e meio. Mas as coisas seguem caminhos tortuosos. Assim que cheguei tive medo; medo de que todo aquele tempo que passei distante na verdade não tivesse existido, que a vida continuasse como sempre tinha sido, e o ultimo ano e meio não passasse de férias prolongadas. Os mesmos rostos de sempre, as mesmas piadas sem graça e os mesmos problemas, todas essas coisas que formam aquilo que chamamos de família estavam de volta, e isso me incomodou muito. Quando decidi que voltaria estava fazendo isso pelos meus amigos, para revê-los, mas devia ter lembrado que a família estaria sempre lá pra perguntar qual era mesmo o curso que eu estou fazendo, pra dizer que cresci, mesmo não sendo verdade.
À noite deitei no quarto que dormia antes de me mudar, olhei pela janela através da qual já tinha observado a rua lá em baixo centenas de vezes e nas horas de insônia, que me afligem todas as noites, fitei o mesmo teto que já tinha estado lá para mim em muitas situações semelhantes.
Mas finalmente revi meus amigos, não todos, não sempre, mas os vi; conversei com eles, contei minhas histórias e ouvi as deles, rimos juntos, rimos muito, e isso me deu aquela sensação estranha de que nada tinha mudado, estar com eles era tão bom quanto sempre fora. Logo já estava novamente falando com um pouco do sotaque que nunca tive mais que um pouco, olhando para o céu sem nenhuma nuvem à vista, depois de ter esquecido que era possível um céu tão azul, tão chapado quanto a parede de um quarto. Havia esquecido que o Sol estava assim tão perto de nós; já tinha me acostumado a pensarque na verdade ele estava mais distante, que era mais fraco, que era possível escapar a sua luz que machuca, dói, incomoda. Mas lembrei também como é sentar-se sobre um tapete, sob uma arvore, em um parque, comendo com amigos, tirando mais de 700 fotos em uma única tarde. Lembrei como é passar noites jogando baralho, como as cidades pequenas são tranqüilas para se ler na madrugada. E mostrei para meus amigos como é bom comer comida japonesa, como é bom andar por vários quilômetros nas ruas vazias e mal iluminadas.
Mas já estou com vontade de voltar. Agora mais do que nunca sinto que aqui é um lugar pequeno demais para as almas que querem em seu âmago abarcar o mundo. E logo vou ter de voltar, voltar a sentir saudades de amigos caros, voltar pensar em momentos como aqueles sobre um tapete e sob uma arvore como coisas felizes mas distantes. Logo vou ter de voltar ao caos com o qual me identifico tanto, ao barulho e aos passeios pela Paulista, vou ter de voltar a viver, não sem sofrer um pouco, é verdade, mas sempre feliz por me livrar da mediocridade.
***
A floresta era densa e à noite, como começava a acontecer naquele caso, ficava difícil ver para onde se está indo. Mas as coisas seguem caminhos tortuosos. Depois de algumas horas perdido o príncipe viu ao longe uma fraca luz. Imediatamente galopou naquela direção, com sua comitiva, pouco mais de meia dúzia de súditos, a segui-lo. Encontrou com facilidade uma pequena casa de madeira em uma igualmente pequena clareira, mas a luz não vinha da casa.
Ao lado do casebre sete tochas estavam levantadas em círculo, em altura média. Cada uma na mão de um pequeno homem, pequenos de uma forma que o príncipe nunca antes tinha visto, apenas ouvido falar em histórias de terras distantes e contos de fada. Os pequenos homens e suas tochas rodeavam um grande bloco de pedra, grande o suficiente para que coubesse ali uma pessoa, uma pessoa de tamanho normal. Ao ver a tampa ao lado do bloco de pedra o príncipe percebeu que se tratava de um funeral.
O príncipe se aproximou do caixão de pedra maciça e os anões abriram caminho para ele, silenciosamente se afastando um pouco, mas a luz de suas tochas, juntamente a do Sol quase que completamente escondido pelas arvores da floresta e pelo horizonte, ainda permitia que a figura lá dentro fosse visível em todos os seus detalhes. Era uma jovem com não mai que dezessete anos, a mais bela que o príncipe já tinha alguma vez visto. Era pálida como o mais puro mármore, pálida como o cadáver que era, mas misteriosamente seus lábios ainda conservavam um pouco de vermelho. “Deve estar recém-falecida” pensou o príncipe. Os cabelos era negros como uma noite sem lua e sem estrelas, e mesmo estando com os olhos fechados era fácil imaginar que os olhos eram da mesma cor. O vestido era vermelho vivo, um pouco puído, provavelmente o único que a jovem tinha para ser enterrada. 
O príncipe ordenou que seu séquito afastasse os anões, que foram presos no casebre sem muita resistencia. O príncipe ficou então sozinho com a falecida. Ah, como ela era linda, ele estava enfeitiçado, não poderia resistir mais tempo. Num átimo rasgou o vestido vermelho com violência. Sob ele a jovem estava completamente nua. Lentamente o príncipe acariciou as partes rosadas da jovem, surpreendendo-se com a frieza da pele, que esperava ainda estar ao menos um pouco quente, mas não era apenas a palidez da jovem que era marmórea. Mas isso não o deteve. Rapidamente o príncipe se livrou de suas roupas e trouxe o cadaver da jovem ao chão gramado. Se deteve por mais alguns instantes a acariciar a pele macia, até não mais resistir, tinha que possuí-la.
Afundou a cabeça nos cabelos escuros, sentindo o odor ainda agradável da jovem e se colocou entre as pernas dela, sem resistência, como era esperado. Mas então algo estranho aconteceu.
O príncipe não pode ver, mas os olhos da jovem se abriram, e eram tão escuros quanto ele havia imaginado. Mas então a mão fria se colocou nas costas quentes do príncipe e o grito que ele teria dado foi abafado pela mordida de dentes profundos na garganta real. O príncipe podia sentir seu sangue fluíndo para a boca da jovem, que não ficava nem um pouco mais quente. O pavor foi então substituído pelo prazer, um prazer crescente e agudo, um prazer tão grande quanto morrer. Un petit mort.
***
Espero que tenham gostado desse post, só lembrando que se você gosta dos meus textos aqui visite o http://talvezblog.blogspot.com
Cuidem-se todos.

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

A verdade sobre MH

Advertência: esse texto é puramente humorístico e não tem como objetivo denegrir a imagem de ninguém. As linhas abaixo não tem NENHUM vínculo com a realidade. Qualquer semelhança com personagens reais é mera coincidência.

Era uma vez, num reino tão tão distante, também chamado Universidade de São Paulo, uma professora velhinha e boazinha, que, além de gaguejar e indicar cursos de redação a seus alunos, ensinava Ciência Política. Seu nome: Marina Hervínia B. Talhares de Almeida, tucana convicta que, como todos os tucanos, era muito idealista quando jovem e adepta do uso de uma boa erva, fazendo jus ao seu segundo nome (Hervínia).

Nesse mesmo reino, existia a bruxa má, ou melhor, o sindicato das bruxas más, também chamado de SINTUSP, do qual Claudionor Brandão, ex-técnico júnior do ar-condicionado e sócio-fundador do clube dos revolucionáriobaderneiros oficial, era membro influente.

O que poucos sabem, porém, é a história de amor, ódio, traição (e todos as outros palavras retiradas das propagandas de novela mexicana) que liga esses dois personagens. Um vínculo de sangue, evidenciado pelo sobrenome que Marina Hervínia faz questão de omitir de todos seus documentos: o sobrenome Brandão!!!!

Era uma noite fria de 1980, na qual os lobos uivavam e as corujas faziam seu som (cujo nome desconheço). MH, no auge dos seus 65 anos, mãe solteira, dava à luz a um bonito menino, que teria um nome e um futuro não tão belos como sua cintilante careca de recém nascido. O menino era Claudionor Brandão, chamado carinhosamente de Clauidonorzinho por sua amada mãe.

Mesmo depois de 15 anos e com o filho adolescente, MH continuava nutrindo sua vida noturna agitada e seu apetite sexual inigualável, seu apartamento era um universo de promiscuidade, o cheiro de sexo exalava pelas paredes, um antro de perdição. Claudionorzinho cresceu um menino doce, porém por vezes rebelde, mas sempre amável com sua mãe que escondia dele toda patifaria.

Essa vida regada de segredos não duraria pra sempre. Certa noite, um belo coroa engravatado, presidente da república e intelectual de respeito decidira visitar a morada de sua amante libidinosa de curvas magistrais. Claudionorzinho, acordado e com medo de um terrível pesadelo, invade o quarto da mãe e flagra-a com Fernando Henrique no ápice do prazer carnal. Na hora não entende, pensa ainda estar tendo pesadelos, mas percebe que é tudo verdade. Logo percebe que todos aqueles homens entrando no quarto da mãe por todos esses anos não eram alunos tirando dúvidas ou professores que estavam auxiliando-a em alguma pesquisa para a faculdade. A casa caiu!

Claudionor profere uma série de impropérios a sua mãe, foge de casa e dedica sua vida a provocar sua parideira. Deixou de lado o primeiro nome e decidiu utilizar agora somente Brandão. Dedicou-se a “estudar” o Marxismo, a se engajar no sindicalismo e a tocar o terror na Universidade que a mãe trabalhava, adotando discursinhos batidos, geralmente acompanhados da palavra “companheiro”, “privatização” e “luta” numa mesma frase.

Após uma série de brigas e provocações, MH resolve esquecer que teve um filho panaca, e decide esconder todo esse seu passado negro (por isso omite seu sobrenome do meio). Dedica sua vida a desmoralizar seu filho, o movimento grevista, além de apoiar veementemente o PSDB, o REItor e escrever artigos argumentando contra o sindicalismo na USP.

Enfim, é uma história de briga entre mãe e filho, uma história triste e trágica. Apesar da raiva que sentem um do outro, ambos ainda pensam nos bons tempos e imaginam se um dia voltarão a se falar. Será que MH pedirá desculpas e perdoará seu filho? Será que os dois ainda irão assistir DVD e comer pipoca juntinhos como mãe e filho? Será que Brandão deixará de ser orgulhoso e perdoará a boa velhinha? Isso são perguntas que só o tempo poderá responder...


MORAL DA HISTÓRIA: Tranque a porta quando for transar com o presidente!

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segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Arte de Viver

Texto escrito há 15 dias, mas só agora revisado =D

“O teatro não é o lugar em que fingimos ser outrem ou colocamos máscaras, mas aquele em que nos descobrimos e todos os disfarces caem”.

Passei algum tempo pensando sobre o que devia escrever no blog: matérias mais específicas de RI, cultura, reportagens, qualquer tema ou nenhum. O maior problema, depois da falta de prioridade quanto ao blog, era o receio de escrever. Nunca fui exímio com a caneta; acredito que minha comunicação corporal, apesar de tão acanhada e débil neste primeiro semestre, seja a melhor forma de me expressar.

Quero juntamente registrar aqui que me parece uma ótima idéia a criação de um blog e que minha escrita possui dois fatos estranhos(?): 1- utilizo fontes MUITO diversas e não me importo se estou citando Aristóteles e Morgenthau ou Marco Luque, Batman e Naruto porque, em suma, o que vem de mais novo na produção ocidental e oriental recicla pensamentos e mesmo textos antigos; 2- não escreverei, de primeira, um texto com temas políticos ou extremamente sérios que passaram por minha cabeça, tais quais a catástrofe nordestina, as ondas de suicídio global, o aumento da receita previdenciária ou o acordo sino-taiwanês. Falarei sobre o Teatro, tentando imprimir uma curiosidade e, quem sabe, desejo de participar/assistir teatro por parte dos leitores, pois a falta de público é imensa no Brasil. Abramos as cortinas!

A Arte de Viver

O teatro que hoje representa tanto o local físico da representação cênica quanto esta própria, é uma fonte de conhecimentos interminável para os espectadores, atores, diretores e técnicos envolvidos em seu desenvolvimento. Meu foco aqui será a arte dramática que não apresenta uma única definição absoluta e correta, sendo interessante aquela enunciada por Stanislavski: é a capacidade de representar a vida do espírito humano, em público e de forma artística.
Começo pela face não exata ou paradigmática das qualidades teatrais, eixo essencialmente mais interessante e complexo. A abertura mental a novos universos, idéias, dimensões e sentimentos propiciada pelo teatro é simplesmente esplêndida. Não consigo pensar em nenhum outro meio que conjugue com tal perfeição a leitura, a discussão e a imaginação junto ao uso da melhor ferramenta que nós possuímos: o corpo. A prática teatral possibilita um tal entendimento de si, uma paz e euforia conjuntas e uma felicidade por estar vivo a qual pode dar sentido novo a vida ou criar um para ela.

Além disso, acredito que a diversão e a aprendizagem atingem seu apogeu nas artes cênicas. E não falo aqui só do puro gozo do riso, mas a diversão como resultado de realização pessoal e a aprendizagem constituída por descoberta e criação de conhecimento, expandindo nossos limites.

Há ainda o desenvolvimento do próprio olhar teatral como espectador, que passa pela identificação com o outro e expansão de nossos focos, que iniciam em si mesmo e se expandem para os colegas, para o palco e, enfim, para o público, criando momentos sublimes. Ademais, acho fabuloso a ligação prática de conceitos histórico-geográficos, psicologia e outras áreas do conhecimento na construção de algo maior, sendo que de nossas mãos e mente surge um outro ser, a Persona, e por fim, o espetáculo.

Pelo eixo mais pragmático de aprendizagem, observamos no teatro o contato e aperfeiçoamento de diversas capacidades muito valorizadas atualmente, como: a visão crítica da realidade e tentativa de apresentar resoluções para nossos problemas; o trabalho em grupo; a organização e planejamento de ações individuais e conjuntas e também a agilidade ao lidar com situações improváveis, ou seja, improvisar; memorização de termos chaves e técnicas de leitura rápida; manter a calma ao falar em público, através da identificação com a platéia e manejo da mesma; por fim, a postura e linguagem corpóreas permitem imposição de si mesmo, sendo possível projetar sensações aos outros, como pressa e angústia, perto ao desespero, ou calma e tranquilidade, próximas à paz.

Através desta caracterização pessoal e positiva do fato de viver o teatro, tento fazer um tributo à arte cênica em questão. É necessário apresentar aqui um problema que me incitou a tal ato, que é o déficit enorme de atenção social à essa arte de potencial imenso para construção de uma sociedade melhor. Acredito que não seja só pela desigualdade social e preço das peças que haja pouca demanda, até porque há vários espetáculos gratuitos ou de baixo custo em São Paulo; mas pelo fato de não haver uma cultura teatral no Brasil, que precisa ser incitada, mesmo que através de iniciativas pequenas, como esta.


Dica de site para achar apresentações de baixo custo e gratuitas: http://catracalivre.folha.uol.com.br/

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Notas de Rodapé

(Ou comentários intrometidos sobre fatos aleatórios)

O Brasil é torto
É o que se pressupõe ao conhecer o Movimento Endireita Brasil, um grupo que se auto-proclama a "nova direita brasileira". Suas principais bandeiras são o respeito às liberdades individuais, às leis, à propriedade privada, à meritocracia e à ética (nenhuma "raça ariana" ou "família cristã" no meio, veja que progresso!). De modo geral, pontos não muito polêmicos, embora a argumentação em torno de alguns deles tenha me chamado a atenção.
Ao defender o respeito às liberdades individuais, por exemplo, o movimento afirma que "os direitos e liberdades individuais estão acima do coletivo" - pausa pra Hobbes se revirar no túmulo - o que me parece algo entre absurdo e egoísta. As liberdades individuais devem, claro, ser respeitadas, mas sempre tendo em mente o bem coletivo - ambos os pontos são perfeitamente conciliáveis, ao meu ver. Caso a liberdade individual entre em conflito com o bem coletivo, ela já não é liberdade, é abuso.
Outro ponto que me chamou a atenção foi o da meritocracia. Não a meritocracia em si - questão também muito discutível - mas o modo como a defesa foi feita. Segundo o Endireita Brasil, "se ela [uma pessoa] não funciona, se é um profissional ruim e preguiçoso, tem que rodar". Estilos, digamos, "literários" à parte, dizer que uma pessoa "não funciona" é uma ofensa ao ser humano. Eletrodomésticos não funcionam. Máquinas não funcionam. Reduzir um homem à uma peça de maquinário denota um pensamento desrespeitoso, limitado e desumano. Realmente não vejo a hora de conhecer os candidatos apoiados pelo Movimento.

Pulp (non)-Fiction
Domingo Espetacular: "Bruno e Eliza, uma história de obsessão, ciúme, sexo, violência e drogas".
E eis que o sensacionalismo encontra Tarantino.

Ultraviolence
Falando em Tarantino, encontrei uma montagem muito boa com os filmes dele e dos irmãos Coen, com Nancy Sinatra na trilha sonora (convenci?). Mas pra irritar o Emannuel só um pouquinho, vou colocar outra montagem aqui no blog, Kubrick vs Scorsese, fantástica!



Ecos de poesia barata da madrugada
Eu fiquei ali deitada por horas. A sinfonia urbana como trilha, coordenada por um péssimo maestro, com músicos cada qual no seu próprio ritmo, tocando pra uma platéia mau-educada, indiferente à bagunça de melodias. Eu só queria silêncio.
Ele não veio.
Apesar do vento que agitava as cortinas, sentia-me sufocada. Sufocada pelo tempo. Duas e três, duas e quatro, três e vinte e sete, dez pras seis. O despertador tocou. Tocou, tocou, tocou. Aquele bip monótono, regular, frustrante - o tédio é o novo galo das manhãs.
Me nego a ceder. Toque o quanto quiser, relógio, seus minutos não me ameaçam mais. Eu vou permanecer aqui. Há muito tempo não vejo coisas permanecendo.
Sinfonia, hoje eu te desafino.

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terça-feira, 6 de julho de 2010

Feijoada búlgara (ou finalmente um texto que merece esse título)

Não estou satisfeito com meus posts aqui no Irid's. Nem um pouco satisfeito, de fato. São apenas um monte de besteiras com um pouco de sentido. Acredito que a academicidade dos meus colegas de blog me amedrontou um pouco, mas agora decidi fazer postagens mais livres, mais do jeito que eu gosto, e se por algum desatino do destino – que combinação de palavras incrível! – você gostava daquilo, bem, eu prometo ainda falar um pouco dessas coisas, mas de forma menos crítica, simplesmente viajando, sem tentar encher o texto com piadinhas que ou são completamente desprovidas de todos os atrativos ou são praticamente inacessíveis para compreensão, por não se adequarem de fato a este formato. Ou talvez por que eu não estou devidamente adequado a este formado. Pro inferno.

***

A inspiração é uma vadia. Não, é muito pior do que isso. Você sequer tem a opção de comprá-la por alguns trocados quaisquer sempre que quiser, muito pelo contrário, ela passará dias e dias sem te olhar nos olhos, te evitará, jogar-te-á no lixo dos poetas, pensando que de alguma forma sua criatividade foi inutilizada. E tudo isso, para de uma hora para outra ela te acordar no meio da noite, ou te manter acordado por horas além daquelas que você normalmente estaria disposto a passar em claro, e tudo isso por resultados que nem sempre são satisfatórios. Não é só porque ela te permite tê-la em tuas mãos que você de fato conseguirá moldá-la em arte, ou mesmo em coisas menores. Ela poderá te torturar, te usar, te fazer suar e arfar, só para que quando coloque o ponto final naquilo que estava escrevendo perceber que tudo aquilo que fez ficou péssimo, que para a quantidade de inspiração que tinha poderia fazer algo muito melhor. Talvez essa queda na produtividade se dê exatamente pela falta de sono, afinal a maldita te fez acordar no meio da noite, com uma idéia que parecia ser genial e que no fim não pode ser transposta de forma satisfatória. A idéia talvez realmente fosse genial, talvez o problema estivesse em você. Ou talvez em mim.

***

Um pequeno conto, completamente ficcional, embora a idéia tenha me surgido de uma situação real:

De alguma forma a presença dela me desagradava. Estivera preparado para estar ali, desde cedo sabia que as coisas acabariam em uma mesa com pessoas rindo e falando besteiras. Mas não esperava que ela estivesse lá. De alguma forma aquela presença me incomodava. Não é como se eu não gostasse dela. Muito pelo contrário: todas as pessoas na mesa me eram agradáveis, ela em especial. No entanto algo estava errado. Talvez me tivesse surpreendido, talvez simplesmente não soubesse como agir na frente dela, ficava assustado. Bebi um pouco, apesar de não ser muito afeito a bebidas alcoólicas, pensando que poderia assim me soltar um pouco. Não deu certo, talvez a quantidade tenha sido pouca, ou só me compeliu a falar besteiras que sequer chegavam a ser engraçadas, piorando a sensação que ela me causava. Agora penso que isso pode ter sido completamente imaginado, mais uma das inúteis ilusões que minha mente insiste em criar. Apenas eu, como o bobo solitário que sou, percebia todas as vezes que buscava consolo no rosto dela, como se para fugir de mim mesmo, como se para me perder um pouco mais na demência em que julgava me encontrar, e na qual de fato poderia estar.

Era o tipo de situação da qual costumo gostar bastante, desde muito minha maior diversão é essa: estar com um grupo de pessoas que considero minhas amigas, se preocupando com pouco, rindo de muito. O consolo dos livros, filmes e mesmo das músicas são de certa forma mais solitários, incomparáveis a uma gargalhada sincera. Mas dessa vez era diferente, não de todo um desconforto, mas a sensação de que algo está no lugar errado; tentei agir como sempre o faço e se consegui não o sei. Justo agora que me acreditava livre da dependência que ela me causava percebi que era fácil ter recaídas. É assim com todos os vícios: ou você se livra deles por vontade própria ou eles vão acabar te matando, de uma forma ou de outra; não existe ajuda externa que salve os viciados, eles não escutam, julgam-se normais em sua decrepitude, em sua imundice. Comigo não é diferente, afinal também é possível que nos viciemos em um rosto, por mais que este não nos diga muito, por mais que ele simplesmente sacie nosso vício. No entanto aquela reação me era nova, uma overdose seria o mais passível de comparação, mas de fato não era isso.

Voltei para casa na noite fria. Dentro do ônibus uma fragrância irritou meu olfato, congestionou minhas vias respiratórias. O cheiro me lembrou a situação ainda a pouco passada: não era um cheiro ruim, pelo contrário, era até agradável, mas me tomava de uma forma que de forma alguma me agradou, muito denso, completamente avesso a mim, praticamente agressivo. Logo creditei-o a uma moça que sentava-se perto de mim, visivelmente preparada para alguma aventura noturna, como se costuma ver muito nos bairros semelhantes àquele em que vivo. Em um ponto, no meio do meu caminho para casa, no entanto, ela desceu, mas o cheiro ficou, continuei a me perturbar, dessa vez ainda mais, com o cheiro que ficava mesmo após sua causa ter desaparecido. Apenas ao descer do ônibus, no curto percurso que tenho de fazer a pé até minha casa percebi que o cheiro era meu. Aquilo me surpreendeu absurdamente. Não reconhecia aquilo como sendo parte de mim. Apesar de provavelmente não ser desagradável para todos, como eu disse não era um cheiro ruim de todo, mas ainda assim era detestável para mim. Fiquei a me perguntar desde quando eu passara a ser tão repulsivo para mim mesmo sem o perceber.

***

Depois de todo esse tempo de lançado você já deve ter visto o filme 500 dias com ela. Se não viu faça isso, provavelmente vai ser seu primeiro contato com a Zooey Deschanel. A não ser, é claro, que você já tenha visto O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas não é a mesma coisa, talvez porque os dois são extremamente diferentes, em 500 dias a naturalidade é impressionante, a personagem é apaixonante. Mas além de atriz a moça da Califórnia é também vocalista de um duo com M. Ward, conhecido expoente do folk moderno; juntos eles formam o She & Him, que recentemente lançou seu segundo disco, composto por uma boa quantidade de músicas próprias, escritas por Deschanel e musicadas por Ward, além de alguns covers de músicas famosas, como já tinham feito no primeiro álbum. A sonoridade do grupo é bem simples, e agradável, vale a pena conferir. Mas uma curiosidade é que Zooey é casada com o frontman de uma banda que gosto bastante, Ben Gibbard do Death Cab For Cutie, que ao que tudo indica virá ao Brasil no segundo semestre, não pretendo perder. As vezes ao ouvir She & Him, fico pensando na influência que ele pode ter tido sobre as composições da esposa, longe de mim falar que ele teria mão ativa no que ela escreve, até mesmo porque são estilos completamente diferentes: embora ambos sejam tranqüilos e agradáveis S&H é radioso, enquanto DCFC é bem mais sombrio. Mas ainda assim é inegável que ambos devem influenciar um ao outro, se não de forma direta ao menos como inspiração.

***

Espero que não tenha ficado um texto de todo confuso. Vamos ver a recepção disso.

"A Coerência é o fantasma das mentes pequenas"
-Woody Allen.

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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Poeira

Eu vivo entre poeira
Já tentei de tudo
E não há nada que eu faça
Que a tire de mim
Eu limpo
E ela continua por lá
Quando tudo parece impecável
Nos próximos dias já está tudo empoeirado de novo
E eu vivo assim
Um ciclo
Poeira
Não-poeira
Poeira
Não-poeira
Já é hora de me acostumar
Que a vida é empoeirada
Suja
Imperfeita
E não há nada mais que eu possa fazer

Assim eu fico
Também
Sem peso na consciência
Um ser empoeirado
E sujo
Como eu deveria ser
Como eu sou
Apesar de todos não parecerem ser
Mas tudo é
E sempre será
Empoeirado

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