Por Emannuel K.
O nome sempre me parecera incomum. Era aquele tipo de nome que você sabe que existe, mas nunca tive a oportunidade de alguma vez encontrar alguém que o tivesse. Era, portanto, quase que um mito. Mas as coisas seguem caminhos tortuosos. Mais cedo ou mais tarde eu teria que conhecer alguém com esse nome, e de fato encontrei. Então as coisas mudaram um pouco. Agora, sempre que uma atendente de telemarketing me telefonava, era uma com o nome dela, sempre que andava de ônibus ou metrô ouvia o nome dela na conversa de outros passageiros, descobri que o nome da mãe de uma grande amiga era o mesmo nome dela, ou que minha própria mãe faz amizade com uma mulher com o mesmo nome dela. Agora quando baixo um disco é quase certo que, sem que eu saiba, uma das músicas tenha o nome dela, ou alguma variante próxima, agora as personagens de alguns dos filmes que eu mais gosto de ver tem personagens com o nome dela. O nome me persegue, e o faz não por forças do acaso, mas o faz por sua dona. Em condições como essa era de se esperar que fossem apenas duas as possibilidades: ou eu a odiaria ou a amaria. Mas desde pequeno fui educado para não odiar, esse é um sentimento muito ruim e muito forte, e por mais que valha a pena experimentar todos os sentimentos, alguns não compensam mais do que isso. Portanto, me apaixonei. Ou melhor, muito antes disso começar já estava apaixonado. Exatamente quando pensava em deixar de lado, partir pra outra, achar coisa melhor pra fazer, o nome começou a me perseguir, e não consigo parar de pensar nele, volta sempre que estou prestes a me deixar levar.
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Eu não voltava para minha terra natal a aproximadamente um ano e meio. Mas as coisas seguem caminhos tortuosos. Assim que cheguei tive medo; medo de que todo aquele tempo que passei distante na verdade não tivesse existido, que a vida continuasse como sempre tinha sido, e o ultimo ano e meio não passasse de férias prolongadas. Os mesmos rostos de sempre, as mesmas piadas sem graça e os mesmos problemas, todas essas coisas que formam aquilo que chamamos de família estavam de volta, e isso me incomodou muito. Quando decidi que voltaria estava fazendo isso pelos meus amigos, para revê-los, mas devia ter lembrado que a família estaria sempre lá pra perguntar qual era mesmo o curso que eu estou fazendo, pra dizer que cresci, mesmo não sendo verdade.
À noite deitei no quarto que dormia antes de me mudar, olhei pela janela através da qual já tinha observado a rua lá em baixo centenas de vezes e nas horas de insônia, que me afligem todas as noites, fitei o mesmo teto que já tinha estado lá para mim em muitas situações semelhantes.
Mas finalmente revi meus amigos, não todos, não sempre, mas os vi; conversei com eles, contei minhas histórias e ouvi as deles, rimos juntos, rimos muito, e isso me deu aquela sensação estranha de que nada tinha mudado, estar com eles era tão bom quanto sempre fora. Logo já estava novamente falando com um pouco do sotaque que nunca tive mais que um pouco, olhando para o céu sem nenhuma nuvem à vista, depois de ter esquecido que era possível um céu tão azul, tão chapado quanto a parede de um quarto. Havia esquecido que o Sol estava assim tão perto de nós; já tinha me acostumado a pensarque na verdade ele estava mais distante, que era mais fraco, que era possível escapar a sua luz que machuca, dói, incomoda. Mas lembrei também como é sentar-se sobre um tapete, sob uma arvore, em um parque, comendo com amigos, tirando mais de 700 fotos em uma única tarde. Lembrei como é passar noites jogando baralho, como as cidades pequenas são tranqüilas para se ler na madrugada. E mostrei para meus amigos como é bom comer comida japonesa, como é bom andar por vários quilômetros nas ruas vazias e mal iluminadas.
Mas já estou com vontade de voltar. Agora mais do que nunca sinto que aqui é um lugar pequeno demais para as almas que querem em seu âmago abarcar o mundo. E logo vou ter de voltar, voltar a sentir saudades de amigos caros, voltar pensar em momentos como aqueles sobre um tapete e sob uma arvore como coisas felizes mas distantes. Logo vou ter de voltar ao caos com o qual me identifico tanto, ao barulho e aos passeios pela Paulista, vou ter de voltar a viver, não sem sofrer um pouco, é verdade, mas sempre feliz por me livrar da mediocridade.
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A floresta era densa e à noite, como começava a acontecer naquele caso, ficava difícil ver para onde se está indo. Mas as coisas seguem caminhos tortuosos. Depois de algumas horas perdido o príncipe viu ao longe uma fraca luz. Imediatamente galopou naquela direção, com sua comitiva, pouco mais de meia dúzia de súditos, a segui-lo. Encontrou com facilidade uma pequena casa de madeira em uma igualmente pequena clareira, mas a luz não vinha da casa.
Ao lado do casebre sete tochas estavam levantadas em círculo, em altura média. Cada uma na mão de um pequeno homem, pequenos de uma forma que o príncipe nunca antes tinha visto, apenas ouvido falar em histórias de terras distantes e contos de fada. Os pequenos homens e suas tochas rodeavam um grande bloco de pedra, grande o suficiente para que coubesse ali uma pessoa, uma pessoa de tamanho normal. Ao ver a tampa ao lado do bloco de pedra o príncipe percebeu que se tratava de um funeral.
O príncipe se aproximou do caixão de pedra maciça e os anões abriram caminho para ele, silenciosamente se afastando um pouco, mas a luz de suas tochas, juntamente a do Sol quase que completamente escondido pelas arvores da floresta e pelo horizonte, ainda permitia que a figura lá dentro fosse visível em todos os seus detalhes. Era uma jovem com não mai que dezessete anos, a mais bela que o príncipe já tinha alguma vez visto. Era pálida como o mais puro mármore, pálida como o cadáver que era, mas misteriosamente seus lábios ainda conservavam um pouco de vermelho. “Deve estar recém-falecida” pensou o príncipe. Os cabelos era negros como uma noite sem lua e sem estrelas, e mesmo estando com os olhos fechados era fácil imaginar que os olhos eram da mesma cor. O vestido era vermelho vivo, um pouco puído, provavelmente o único que a jovem tinha para ser enterrada.
O príncipe ordenou que seu séquito afastasse os anões, que foram presos no casebre sem muita resistencia. O príncipe ficou então sozinho com a falecida. Ah, como ela era linda, ele estava enfeitiçado, não poderia resistir mais tempo. Num átimo rasgou o vestido vermelho com violência. Sob ele a jovem estava completamente nua. Lentamente o príncipe acariciou as partes rosadas da jovem, surpreendendo-se com a frieza da pele, que esperava ainda estar ao menos um pouco quente, mas não era apenas a palidez da jovem que era marmórea. Mas isso não o deteve. Rapidamente o príncipe se livrou de suas roupas e trouxe o cadaver da jovem ao chão gramado. Se deteve por mais alguns instantes a acariciar a pele macia, até não mais resistir, tinha que possuí-la.
Afundou a cabeça nos cabelos escuros, sentindo o odor ainda agradável da jovem e se colocou entre as pernas dela, sem resistência, como era esperado. Mas então algo estranho aconteceu.
O príncipe não pode ver, mas os olhos da jovem se abriram, e eram tão escuros quanto ele havia imaginado. Mas então a mão fria se colocou nas costas quentes do príncipe e o grito que ele teria dado foi abafado pela mordida de dentes profundos na garganta real. O príncipe podia sentir seu sangue fluíndo para a boca da jovem, que não ficava nem um pouco mais quente. O pavor foi então substituído pelo prazer, um prazer crescente e agudo, um prazer tão grande quanto morrer. Un petit mort.
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Espero que tenham gostado desse post, só lembrando que se você gosta dos meus textos aqui visite o http://talvezblog.blogspot.com
Cuidem-se todos.
Lendo seu texto tive a certeza de que não fui mal interpretado quando disse uma vez que a minha cidade era "limitada". Tomei cuidado para não soar arrogante.
ResponderExcluirSenti um certo rancor da sua parte em relação à família. É uma fase pela qual todos passam, Emano. Acho que por vezes nós renegamos os outros por refletirem os nossos próprios defeitos. E família é aquilo: por mais que a gente não admita, nós herdamos muito dela, sobretudo em se tratando de traços (tortos) de personalidade. Acredito que o que difere você deles, seus pais, são as oportunidades de que você dispôs/dispõe e as circunstâncias nas quais você esteve/está inserido. De resto, não tem jeito...
Vixi, necrofilia? O blog tá ficando iridescente demais pro meu gosto. Tem visitado muitos cemitérios aí em Pernambuco, Emano? Espero que não. =P
E, cara, não leva esse comentário como um sermão, porque não foi.
Abraço!
Bem Roger, Valeu por comentar, já estava ficando triste por nigm ter falado nada ainda hehehe
ResponderExcluirOlha, eu não tentei tomar cuidado para não parecer arrogante, esse tipo de precaução não é muito meu perfil. A principal idéia dessa segunda parte do texto não era sobre as cidades mesmo Roger, só que meio que essas férias me fizeram ver o que eu já imaginava, que não sinto falta do lugar, mas das pessoas, entende? E no ponto da família, se te passei essa impressão é porque me expressei mal, vou tentar não fazer isso novamente. Na verdade o que quis dizer com isso é que essas coisas são normais, acredito que em qualquer família, e não que eu não gosto dessas confusões, de forma alguma, mas que não posso dizer que elas são fugas do tédio simplesmente por serem confusões, mas sim uma forma de tédio, era só uma forma de reafirmar que quando não estava com os amigos era tudo bem tedioso...
Huashasuashuas Essa é a versão original da Branca de Neve, com umas pequenas pinceladas minhas, claro. É que muita gente esquece que os contos de fada na verdade eram estórias para adultos antes da Disney, só tentei relembra-los heheeh
Mas garanto que vou tomar mais cuidado nos próximos post, não posso me dar ao luxo de escrever coisas que não sejam para que os leitores entendam e se divirtam, como acredito ser função de todo escritor. Valeu Roger!
Necrofilia, Emannuel? Assim você ofende minha moral burguesa! hahaha
ResponderExcluirPS: precisamos conversar sobre fixações e nomes.
Acho engraçado como as pessoas em média tentam fugir da mediocridade.
ResponderExcluirNada contra, mas eu acho que dentro do que as pessoas que tentam fugir da mediocridade chamam de mediocridade há muito mais de vida do que se espera.