segunda-feira, 19 de julho de 2010

Notas de Rodapé

(Ou comentários intrometidos sobre fatos aleatórios)

O Brasil é torto
É o que se pressupõe ao conhecer o Movimento Endireita Brasil, um grupo que se auto-proclama a "nova direita brasileira". Suas principais bandeiras são o respeito às liberdades individuais, às leis, à propriedade privada, à meritocracia e à ética (nenhuma "raça ariana" ou "família cristã" no meio, veja que progresso!). De modo geral, pontos não muito polêmicos, embora a argumentação em torno de alguns deles tenha me chamado a atenção.
Ao defender o respeito às liberdades individuais, por exemplo, o movimento afirma que "os direitos e liberdades individuais estão acima do coletivo" - pausa pra Hobbes se revirar no túmulo - o que me parece algo entre absurdo e egoísta. As liberdades individuais devem, claro, ser respeitadas, mas sempre tendo em mente o bem coletivo - ambos os pontos são perfeitamente conciliáveis, ao meu ver. Caso a liberdade individual entre em conflito com o bem coletivo, ela já não é liberdade, é abuso.
Outro ponto que me chamou a atenção foi o da meritocracia. Não a meritocracia em si - questão também muito discutível - mas o modo como a defesa foi feita. Segundo o Endireita Brasil, "se ela [uma pessoa] não funciona, se é um profissional ruim e preguiçoso, tem que rodar". Estilos, digamos, "literários" à parte, dizer que uma pessoa "não funciona" é uma ofensa ao ser humano. Eletrodomésticos não funcionam. Máquinas não funcionam. Reduzir um homem à uma peça de maquinário denota um pensamento desrespeitoso, limitado e desumano. Realmente não vejo a hora de conhecer os candidatos apoiados pelo Movimento.

Pulp (non)-Fiction
Domingo Espetacular: "Bruno e Eliza, uma história de obsessão, ciúme, sexo, violência e drogas".
E eis que o sensacionalismo encontra Tarantino.

Ultraviolence
Falando em Tarantino, encontrei uma montagem muito boa com os filmes dele e dos irmãos Coen, com Nancy Sinatra na trilha sonora (convenci?). Mas pra irritar o Emannuel só um pouquinho, vou colocar outra montagem aqui no blog, Kubrick vs Scorsese, fantástica!



Ecos de poesia barata da madrugada
Eu fiquei ali deitada por horas. A sinfonia urbana como trilha, coordenada por um péssimo maestro, com músicos cada qual no seu próprio ritmo, tocando pra uma platéia mau-educada, indiferente à bagunça de melodias. Eu só queria silêncio.
Ele não veio.
Apesar do vento que agitava as cortinas, sentia-me sufocada. Sufocada pelo tempo. Duas e três, duas e quatro, três e vinte e sete, dez pras seis. O despertador tocou. Tocou, tocou, tocou. Aquele bip monótono, regular, frustrante - o tédio é o novo galo das manhãs.
Me nego a ceder. Toque o quanto quiser, relógio, seus minutos não me ameaçam mais. Eu vou permanecer aqui. Há muito tempo não vejo coisas permanecendo.
Sinfonia, hoje eu te desafino.

4 comentários:

  1. Nossa, tanto tempo de espera surtiu bons resultado numa ânsia de tudo!
    E poesia barata é o que liga :)

    Já que você trouxe tarantino à tona, vale a pena lembrar de Tarantino's Mind, curta com Selton Mello e Seu Jorge. Acredito que quase todo mundo já viu, mas vale a pena rever: www.youtube.com/watch?v=op4byt-DtsI

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  2. Parece que os participantes do Endireita Brasil se esquecem de que não só de esforço é feita a vida profissional...

    E os ecos ficaram fantásticos! Espero que você tenha mais alguns dias de insônia (produtiva, é claro, ou você pode acabar sendo despedida...)!

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  3. Muito bom!
    Estava esperando ansiosamente um post seu por aqui Fer! Adorei! Mas me perdi em algumas coisinhas....
    Tarantino encontrando o sensacionalismo é um comentário sobre o novo filme dele? Não não, agora percebo que deve ser alguma notícia vinculada na nossa mídia estou certo? Nisso que dá não ler jornais hehehe
    Eu adoro os filmes do Scorcese. Masme irritou um pouquinho sim, teria preferido a outra montagem, tudo culpa do Kubrick.
    Não me entendam mal, gosto dos filmes dele. São provavelmente os filmes mais lindos já feitos, ao menos no aspecto visual, são um banquete para os olhos, mas eu sempre achei que isso era pouco para filmes. Como exemplo dá pra ver que muitos dos filmes dele, para não dizer os principais, como 2001, Lolita e Laranja Mecânica, são adaptações de livros. Apesar disso ele nunca se propõe a criar adaptações que sigam cegamente a versão original, o que é bom, não nego que a versão feita por ele para Lolita é a melhor que já vi, melhor mesmo que o livro, no entanto os filmes dele sempre parecem deixar algo de lado. Em 2001, por exemplo, as atuações são quase inexistentes, sendo os efeitos visuais o principal atrativo do filme. Por outro lado temos o Laranja, ótima atuação do protagonista, e satisfatória dos demais, sempre com o padrão de beleza Kubrick, tem até mesmo cristicas sociais e tudo o mais, é um filme com alma, mas não deixa de ser, raso, por mais que pareça absurdo depois que eu tenha dito isso tudo, o fato é que esse é que Laranja e Lolita são os meus filmes preferidos do Kubrick mas nunca entrariam no meu rol de melhores filmes, pelo menos não como entram os do Tarantino ou os poucos que vi do Coen.
    Cuidem-se todos!

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  4. Fer, li logo quando você postou e achei que tivesse comentado!
    Mas foi ótimo reler (novamente) e agora sim comentar: antes de tudo, adorei a variedade do post e a dinamicidade.
    O Endireita Brasil me entreteu bastante; e os ecos da sua poesia (nem um pouco barata) da madrugada foram alvos de um modesto ctrlC-cltrlV e se encontram na minha seleção de textos garimpados da internet, adorei!

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