Não estou satisfeito com meus posts aqui no Irid's. Nem um pouco satisfeito, de fato. São apenas um monte de besteiras com um pouco de sentido. Acredito que a academicidade dos meus colegas de blog me amedrontou um pouco, mas agora decidi fazer postagens mais livres, mais do jeito que eu gosto, e se por algum desatino do destino – que combinação de palavras incrível! – você gostava daquilo, bem, eu prometo ainda falar um pouco dessas coisas, mas de forma menos crítica, simplesmente viajando, sem tentar encher o texto com piadinhas que ou são completamente desprovidas de todos os atrativos ou são praticamente inacessíveis para compreensão, por não se adequarem de fato a este formato. Ou talvez por que eu não estou devidamente adequado a este formado. Pro inferno.
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A inspiração é uma vadia. Não, é muito pior do que isso. Você sequer tem a opção de comprá-la por alguns trocados quaisquer sempre que quiser, muito pelo contrário, ela passará dias e dias sem te olhar nos olhos, te evitará, jogar-te-á no lixo dos poetas, pensando que de alguma forma sua criatividade foi inutilizada. E tudo isso, para de uma hora para outra ela te acordar no meio da noite, ou te manter acordado por horas além daquelas que você normalmente estaria disposto a passar em claro, e tudo isso por resultados que nem sempre são satisfatórios. Não é só porque ela te permite tê-la em tuas mãos que você de fato conseguirá moldá-la em arte, ou mesmo em coisas menores. Ela poderá te torturar, te usar, te fazer suar e arfar, só para que quando coloque o ponto final naquilo que estava escrevendo perceber que tudo aquilo que fez ficou péssimo, que para a quantidade de inspiração que tinha poderia fazer algo muito melhor. Talvez essa queda na produtividade se dê exatamente pela falta de sono, afinal a maldita te fez acordar no meio da noite, com uma idéia que parecia ser genial e que no fim não pode ser transposta de forma satisfatória. A idéia talvez realmente fosse genial, talvez o problema estivesse em você. Ou talvez em mim.
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Um pequeno conto, completamente ficcional, embora a idéia tenha me surgido de uma situação real:
De alguma forma a presença dela me desagradava. Estivera preparado para estar ali, desde cedo sabia que as coisas acabariam em uma mesa com pessoas rindo e falando besteiras. Mas não esperava que ela estivesse lá. De alguma forma aquela presença me incomodava. Não é como se eu não gostasse dela. Muito pelo contrário: todas as pessoas na mesa me eram agradáveis, ela em especial. No entanto algo estava errado. Talvez me tivesse surpreendido, talvez simplesmente não soubesse como agir na frente dela, ficava assustado. Bebi um pouco, apesar de não ser muito afeito a bebidas alcoólicas, pensando que poderia assim me soltar um pouco. Não deu certo, talvez a quantidade tenha sido pouca, ou só me compeliu a falar besteiras que sequer chegavam a ser engraçadas, piorando a sensação que ela me causava. Agora penso que isso pode ter sido completamente imaginado, mais uma das inúteis ilusões que minha mente insiste em criar. Apenas eu, como o bobo solitário que sou, percebia todas as vezes que buscava consolo no rosto dela, como se para fugir de mim mesmo, como se para me perder um pouco mais na demência em que julgava me encontrar, e na qual de fato poderia estar.
Era o tipo de situação da qual costumo gostar bastante, desde muito minha maior diversão é essa: estar com um grupo de pessoas que considero minhas amigas, se preocupando com pouco, rindo de muito. O consolo dos livros, filmes e mesmo das músicas são de certa forma mais solitários, incomparáveis a uma gargalhada sincera. Mas dessa vez era diferente, não de todo um desconforto, mas a sensação de que algo está no lugar errado; tentei agir como sempre o faço e se consegui não o sei. Justo agora que me acreditava livre da dependência que ela me causava percebi que era fácil ter recaídas. É assim com todos os vícios: ou você se livra deles por vontade própria ou eles vão acabar te matando, de uma forma ou de outra; não existe ajuda externa que salve os viciados, eles não escutam, julgam-se normais em sua decrepitude, em sua imundice. Comigo não é diferente, afinal também é possível que nos viciemos em um rosto, por mais que este não nos diga muito, por mais que ele simplesmente sacie nosso vício. No entanto aquela reação me era nova, uma overdose seria o mais passível de comparação, mas de fato não era isso.
Voltei para casa na noite fria. Dentro do ônibus uma fragrância irritou meu olfato, congestionou minhas vias respiratórias. O cheiro me lembrou a situação ainda a pouco passada: não era um cheiro ruim, pelo contrário, era até agradável, mas me tomava de uma forma que de forma alguma me agradou, muito denso, completamente avesso a mim, praticamente agressivo. Logo creditei-o a uma moça que sentava-se perto de mim, visivelmente preparada para alguma aventura noturna, como se costuma ver muito nos bairros semelhantes àquele em que vivo. Em um ponto, no meio do meu caminho para casa, no entanto, ela desceu, mas o cheiro ficou, continuei a me perturbar, dessa vez ainda mais, com o cheiro que ficava mesmo após sua causa ter desaparecido. Apenas ao descer do ônibus, no curto percurso que tenho de fazer a pé até minha casa percebi que o cheiro era meu. Aquilo me surpreendeu absurdamente. Não reconhecia aquilo como sendo parte de mim. Apesar de provavelmente não ser desagradável para todos, como eu disse não era um cheiro ruim de todo, mas ainda assim era detestável para mim. Fiquei a me perguntar desde quando eu passara a ser tão repulsivo para mim mesmo sem o perceber.
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Depois de todo esse tempo de lançado você já deve ter visto o filme 500 dias com ela. Se não viu faça isso, provavelmente vai ser seu primeiro contato com a Zooey Deschanel. A não ser, é claro, que você já tenha visto O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas não é a mesma coisa, talvez porque os dois são extremamente diferentes, em 500 dias a naturalidade é impressionante, a personagem é apaixonante. Mas além de atriz a moça da Califórnia é também vocalista de um duo com M. Ward, conhecido expoente do folk moderno; juntos eles formam o She & Him, que recentemente lançou seu segundo disco, composto por uma boa quantidade de músicas próprias, escritas por Deschanel e musicadas por Ward, além de alguns covers de músicas famosas, como já tinham feito no primeiro álbum. A sonoridade do grupo é bem simples, e agradável, vale a pena conferir. Mas uma curiosidade é que Zooey é casada com o frontman de uma banda que gosto bastante, Ben Gibbard do Death Cab For Cutie, que ao que tudo indica virá ao Brasil no segundo semestre, não pretendo perder. As vezes ao ouvir She & Him, fico pensando na influência que ele pode ter tido sobre as composições da esposa, longe de mim falar que ele teria mão ativa no que ela escreve, até mesmo porque são estilos completamente diferentes: embora ambos sejam tranqüilos e agradáveis S&H é radioso, enquanto DCFC é bem mais sombrio. Mas ainda assim é inegável que ambos devem influenciar um ao outro, se não de forma direta ao menos como inspiração.
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Espero que não tenha ficado um texto de todo confuso. Vamos ver a recepção disso.
terça-feira, 6 de julho de 2010
Feijoada búlgara (ou finalmente um texto que merece esse título)
"A Coerência é o fantasma das mentes pequenas"
-Woody Allen.
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Poxa Emannuel, todo mundo sabia que vc escrevia bem, mas dessa vez você matou a pau (pelo menos no meu gosto pessoal). Ficou uma delícia de texto, suspeito que nesse estilo você ficou mais confortável.
ResponderExcluirPra não ficar só no elogio, adiciono que a Zooey Deschanel, mesmo que limitada como atriz, é de um charme que estonteia - não só no cinema como na música. E quando ela é usada em filme com esse propósito de musa, o resultado não tem como desapontar (vide "500 Dias com Ela"). Além desses dois que você citou, lembro do papel pequeno (mas memorável, só por ser Zooey) dela em "Quase Famosos" como a irmã do protagonista.
Eu entendo Manu.
ResponderExcluirGostei muito do conto.
Pensamentos escritos, Emanuel, gosto disso!
ResponderExcluirQuanto ao comentário do Walter, de acordo: o charme da Deschanel é estonteante!
Emannuel,
ResponderExcluirrealmente, você superou positivamente os outros textos.
Acordar no meio da noite para anotar uma inspiração e moldá-la em lixo é realmente a pior sensação que se pode ter. E é bem recorrente também.
Um ponto negativo da Deschanel: FIM DOS TEMPOS de Shyamalan.
DEATH CAB FOR CUTIE vem pro BRASIL?? Are you fucking serious????
"A melody softly soaring through my atmosphere.. When soul meets body!"
paraparapa para papa paraparapa para para parapapara para paaaaa tum tum dum dum dududo
ResponderExcluirObrigado pelos comentários positivos pessoal! Desse jeito acho que vou levar em frente a idéia de fazer posts com esse estilo!
ResponderExcluirWalter, como um bom cinéfilo você sem dúvida tinha que falar desse filme, que eu na verdade ainda não vi, como ele é? Você gstou?
Fábio, acredito que vem sim, mas não posso dar certeza, só ouvi algumas conversas.. E o Shyamalan não faz muit meu estilo de filmes mais, se é que posso dizer que um dia já fez; esse fim dos tempos eu nem conto heheheh
Estonteante, de fato, Pedro. O charme é fundamental pra ela, desarma qualquer um com aquele jeito. Quanto às capacidades dela como atriz... bem, não me decepcionaram ainda, talvez pq no 500 days of Summer ela tenha interpretado um papel que era praticamente ela mesma, mas pra mim ficou perfeito, é um filme que eu adoro.
Novamente obrigado, e dêem seus pitacos aí, quem tiver umas dicas dos defeitos para que eu possa melhorar, são sempre comentários bem-vindos!
"Quase Famosos" é um dos filmes da minha vida =)
ResponderExcluirPra mim é o filme que melhor captura a liberdade plena de quando se é jovem e a relação dos adolescentes com a música e com bandas, na sua formação como pessoa.
Emannuel, adorei esse texto!
ResponderExcluirMuito a sua cara. É o tipo de escrita que veste o escritor de verde em meio a uma multidão de homenzinhos vestidos de branco. Aguardo novos!
Quanto ao comentário do Walter, de acordo: o charme da Deschanel é estonteante! [2]
bons ventos,