quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Don't give up love tonight

Não, eu não sou assim, sei muito bem o que eu quero dela, e o que quero envolve muitos beijos, uma boa dose de gemidos e alguns suspiros.
***
De fato, eu não sou o tipo de pessoa que os outros gostam. Nem sequer tento ser esse tipo de pessoa. Cresci sendo chato e me acostumei bastante bem com isso nos últimos tempos. Muitas das pessoas que me cercam hoje tem dificuldades para lidar com a minha sinceridade, que conservo sem realmente ligar para "contratos sociais" ou para o quão ofendido alguém pode ficar por conta das minhas observações. Essas mesmas pessoas costumam ter problemas com o meu humor, na verdade, nesse caso, não as culpo. Meu humor é uma coisa bem curiosa, que muitas vezes não pode ser entendida, e não consigo explicar sem ficar com a sensação que só devo ter tornado as coisas ainda mais incompreensiveis. Você precisa de um bom tempo convivendo perto de mim para finalmente começar a entender minhas piadas. Mas a maioria não fica por perto por tanto tempo. Não que eu seja anti-social, de forma alguma, a maioria das pessoas até pode gostar de mim inicialmente, mas acho que rapidamente elas ficam ofendidas com alguma pequena besteira que falei, ou por que tentei ser (falsamente) solícito, ou por acharem que é só mais bobagem quando na verdade estou falando algo sério. 
Mais recentemente, porém, descobri outro "problema". Minhas crenças pessoais. Eu reconheço que pode até ser feio ou exagerado da minha parte, mas não consigo ver com bons olhos aquelas pessoas que não pensam por si mesmas nem mesmo nas pequenas coisas. Não que seja errado acreditar naquilo que outros já falaram, mas seguir cegamente algo só por que alguém que você admira falou que as coisas funcionam assim é burrice. Uma burrice tão grande quanto achar que as pessoas não podem ter ideias originais e boas, ninguém precisa fundamentar suas crenças em coisa alguma, não é só por que nenhum filósofo grego está na base da sua filosofia de vida que isso a torna pior que qualquer outra. E tentar humilhar ou denegrir uma filosofia pessoal deveria ser visto como uma ofensa tão grave quanto qualquer tipo de preconceito. E isso por que nem comecei a falar de fé.
Mesmo que todas essas barreiras sejam transpostas aparece mais uma: Eu simplesmente não sou uma pessoa de convívio fácil. Posso ter conversas metafísicas por horas, mas pouca coisa além disso e de algumas bem mais curtas sobre coisas das quais gosto. O resto do tempo é de uma falta de habilidade expressiva para lidar com pessoas reais, talvez por isso a fuga para personagens ficcionais. Talvez por isso tento conhecer o máximo das pessoas com algumas poucas trocas de olhares e palavras, tento chegar ao mais fundo de suas almas antes que elas se tornem inacessíveis para mim, talvez por isso me apaixone pelos pequenos detalhes de suas personalidades; simplesmente para transformar essas pessoas em música e em personagens. Mas chega de desabafos por hoje.
***
- Sabe, eu não acredito em nada disso. Essas coisas nunca acabam bem, não existe isso de final feliz.
Por mais que eu soubesse que ela não acreditava em finais felizes aquilo me surpreendeu um pouco, talvez por que para mim aquilo era algo duro demais para se dizer, eu nunca perdera a esperança de que por mais complicado que fossem as coisas iam dar certo no final.
Eu vivia recebendo meus amigos em casa, era quase como Friends, eles iam e vinham sempre, e eu sempre tinha um bule de café esperando por eles. Não era raro que todos nós oito nos encontrassemos ali na minha casa, as portas estavam sempre abertas, mas hoje éramos só eu e ela. Os outros chegariam mais tarde, sem dúvida, afinal ela viera muito cedo, me fez levantar da cama. e também não era a primeira vez que acontecia, embora fosse a primeira vez com ela. Eu sempre me dispunha a ouvir o que eles tinham para dizer, e sempre que vinham cedo como ela estava fazendo era por que tinham algo importante para desabafar. 
Ela era uma das minhas amigas mais estáveis, nunca imaginaria que um dia ela também iria precisar de uma xícara de café assim tão cedo. Mas o problema não era com ela mesma, mas sim com uma amiga em comum, uma das que certamente passariam pela minha casa mais tarde naquele dia. Elas eram muito próximas e a que estava aqui agora se preocupava que a outra iria se machucar.
- Talvez você esteja certa, talvez não dê para conseguir um final feliz, mas também não vale a pena se preocupar com isso, você é uma daquelas pessoas que adora aproveitar o momento, talvez ela se machuque, mas não somos nós que devemos querer mudar o que ela pensa, como ela age. Se for pra sofrer, que sofra, nós dois sabemos que as vezes isso é necessário, que as vezes um sorriso e cinco minutos de liberdade fazem com que tudo valha a pena. Por que começar a se preocupar com isso agora?
- Talvez estejamos ficando velhos demais pra essas coisas, talvez esteja chegando a hora de nos acalmarmos.
Depois dessa nós dois rimos, sabiamos que aquilo era uma mentira, pelo menos parcial, que nunca nos aquietariamos, mas no fim das contas aquela conversa não mudou nada na vida de ninguém.
***
Maybe I wasn't right
N' things might not be good
But I won't give up love tonight
Don't be rude as I try to be nice
Don't try to lose
While I try hard to find
Love for more than a night
Please love me madly
'Coz I want you badly
And I won't give up love tonight
Don't you give up love tonight

4 comentários:

  1. ô rapaz, você não sabe do peso de alguns dos seus parágrafos.

    ou sabe.

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  2. oi? Que parágrafos especificamente? vc sabe como sou curioso hehe

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  3. Quantas coisas a gente deixa de dizer pra conviver com os outros? Se você for contar, vai perceber que isso acontece toda hora. Se não houvesse "contratos sociais" esse convívio seria insuportável. Você tá na gestão do CA, Emanno, aposto que já deixou de dar pitaco nas coisas muitas vezes, não porque você é fraco e não tem opinião, mas pra evitar conflitos desnecessários e ser aceito. Acho que funciona assim em qualquer esfera da vida em sociedade; se não fosse desse jeito, as pessoas estariam se matando mais que o normal, famílias sendo desfeitas a todo momento... E é como eu te falei: você deixa de apontar alguns traços tortos de caráter (aceitáveis) dos outros porque você espera que eles façam o mesmo quanto aos SEUS traços tortos.

    E dá no saco essa brisa de argumento de autoridade, concordo contigo. Mas veja bem: quanto maior a originalidade da sua idéia, maior a necessidade de esforço pra fundamentá-la, torná-la convincente. Filósofos gregos são uma base segura pra qualquer coisa, não é a toa que as pessoas buscam refúgio neles.

    Espero que você não veja os meus comentários como sermões. Tudo que eu posto aqui tá em consonância com a proposta do blog: levantar discussões.
    Quando quiser quebrar o "contrato social" comigo tem a liberdade para isso - ocasionalmente e com um certo tato, claro.

    Abração, Emanno!

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  4. A frequência com que vc comenta isso nos meus textos só me faz pensar que esse deve ser o meu tema recorrente, todo escritor tem que ter um. Uma pena, de fato, queria tanto que o meu fossem estórias de amor açucaradas. Mas quanto a isso de originalidade eu sou meio nietzdcheano - como em muitas outras coisas, vc ou a Fer contra-argumentariam - ou melhor, kafikiano. Pro inferno as justificativas, eu não falo o que penso, eu escrevo o que sinto. Se tiver que ser as "futuras gerações" vão reconhecer isso, ou que se dane tudo, só me importo que escrevi aquilo que tinha para escrever. Não que eu vá na "vibe" do Rilke, para quem o poeta deve escrever pensando só em si mesmo, para aliviar as suas dores e angústias pessoais, porque eu escrevo para ou outros, eu quero que isso se espalhe, por isso eu, tal qual cachorro pidão, peço para que leiam as coisa que eu escrevo, mas nunca vou pedir para que entendam ou que concordem.
    E aí vem a estória do "contrato social", ou pelo menos o significado que vc atribui a ele pelo meu entender. Já te disse - talvez não com essas palavras - que pra mim isso é bullshit pra proteger pessoas que não tem estômago pra levar na cara. E já que vc tocou no assunto do CA, bem eu realmente creio que sou o membro mais detestado pelos meus colegas de gestão exatamente porque dou meu pitaco independentemente de achar que vai ou não causar confusão, em geral realmente acham que eu só fasso isso pra criar confusão, e não vou negar que adoro ver o circo pegar fogo, mas na verdade faço isso por minha "filosofia de vida".
    Bem, não acho que isso vá mudar nada, mas ainda assim obrigado por ter lido e por comentar.

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