O Corvo do Poe olhou para mim e disse: “Nevermore”.
***
É difícil argumentar. É difícil tentar explicar. Mesmo uma pessoa que vê significado em tudo vem, olha e vê que não existe nada, é vazio. Não existem motivos, apenas desculpas para suprir as lacunas que, no fundo, não podem sequer ser realmente sentidas, pois não estão lá. Tento sem sucesso me convencer que é só um engano, que estou errado, que não tem como ou porque. O buraco no chão continua apenas meio preenchido, não importando quanta terra se jogue em cima do cadáver, chegando ao ponto de nem sequer se ter certeza se ainda existe alguma coisa sob aquelas pás de terra, se existe alguma coisa no fundo, alguma coisa ainda que morta, ou se tudo não passa de desculpas criadas por uma mente que não consegue encontrar nada que realmente sirva como seu lugar de descanso, como um remédio para as inquietações que sempre teve, mas não quer ter por outra eternidade. Por isso se utiliza de um placebo para os espíritos inquietos, e quando percebe o que está fazendo, deixa com que o buraco que tenta tapar simplesmente cresça e fique mais fundo. Falta a coragem para pular na tumba e se sujar de lama, procurando algo que pode muito bem não estar lá. Não, a coragem não falta, ela simplesmente não existe, como tudo o mais, não existe nem mesmo a fraqueza. E quando percebo isso me desespero. Não existe nada que possa fazer, não existe nada, não existe a mínima chance de criar alguma forma de sair dessa situação, pois não existem lugares para onde ir, e mesmo as ideias não podem ser moldadas para fornecer algum conforto. O desespero faz perceber que também não existe ideia nenhuma, que tudo aquilo no que acredito – aquela pá, aquela terra, e a possibilidade de existir algo abaixo dela – tudo não passa de uma ficção criada para que não me sinta assim o tempo todo. Se as lágrimas ainda existissem dentro de mim, elas viriam, mas nem isso. Tento me convencer que não preciso mais dessas ficções, que não tenho mais utilidade para essas máscaras, que não tenho motivos para não me conformar com a minha existência inútil, sem sentido, praticamente uma não existência.
Tento me convencer que não preciso de desculpas, de como ou porquê, mas não consigo, me perco e me deixo, mas não consigo fingir que sou alguma coisa, fingir que não preciso dessas mentiras para me sentir como humano.
Tento me convencer – mas não consigo – de que não preciso de você.
***
“I couldn't make a sentence,
I couldn't even say what I meant to say.
That I want you;
it doesn't hurt to say I want you.
I need you;
I never thought I'd say I need you.
I'll keep you,
Oh yes I'll keep you and I'll throw myself away.
And I'll break you;
because I lose myself inside you.
I'll make you fit in the space that I provide you.
I'll take you,
Oh yes I'll take you just to push you far away, away, away.”
- Pulp, I Want You.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Necessidade desnecessária (Ou I Want You)
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