A gênese da Universidade de São Paulo, bem como a implantação de boa parte de sua estrutura em um campus estrategicamente distante do centro da cidade de São Paulo, eventos ocorridos em contextos políticos-sociais distintos mas convergentes quanto à crítica importância na realidade brasileira, evidenciam o grande papel social vanguardista que tanto seus docentes quanto discentes exerceram ao longo da história do Brasil. Estandarte do saber em suas mais diversas vertentes, perpassando conhecimentos humanos, exatos, biológicos, interconectando-os em uma complexa teia de interdisciplinaridade, ela constituiu e constitui uma das mais profícuas fontes de recursos humanos e tecnológicos, formando profissionais altamente capacitados, criando contribuições inestimáveis à evolução da ciência e promovendo, constantemente, a comunicação de suas atividades com o meio externo, imiscuindo universidade e comunidade; contribuições essas sintetizadas no tríplice lema do ensino, pesquisa e extensão. Contudo, o vislumbrar das últimas duas décadas tem mostrado triste prospecto, ao menos em seu viés administrativo: à parte das notáveis conquistas intelectuais ali alcançadas, a universidade tem se tornado periodicamente refém inconteste de minorias estudantis e sindicalistas, ansiosas de promoverem politicagens divergentes da proposta evidentemente plural e respeitosa constituinte do âmago universitário. Urge uma minuciosa análise dos motivos, bem como das trágicas conseqüências com as quais o meio universitário arca diante do engessamento de suas principais funções administrativas, sob as frágeis estruturas argumentativas de certos grupos.
É absolutamente inegável o papel fundamental que o mecanismo de greve teve no decorrer de toda a história, especificamente após o advento das revoluções burguesas do fim do século XVIII. A ausência de meios jurídicos, bem como de instrumentos político-legislativos para a regulamentação das relações entre capital e trabalho resultou no absoluto descaso por condições minimamente dignas de exercício remunerado, levando milhões de indivíduos à irremediável miséria – não só monetária, mas fundamentalmente moral –, evidenciando a clara necessidade de uma ação suficientemente coordenada. A greve nasce, dessa forma, como único instrumento eficiente de reivindicação e que, surpreendentemente, obteve sucesso na mobilização da classe trabalhadora e posterior constituição de uma legislação trabalhista que, de forma evidentemente resumida, elenca diversas condições mínimas de dignidade para o exercício humano de uma profissão. Contudo, um passado notavelmente vitorioso não justifica, de maneira alguma, o acobertar de uma realidade cuja patente gravidade se mostra em uma análise necessariamente neutra da presente situação. Concentrar-nos-emos aqui no recorrente esteio fundamental do referido movimento grevista da Universidade de São Paulo: a anual contenda por reajustes salariais, ano após ano vociferada em nome de uma suposta isonomia. A exigência de democracia universitária, polêmica e compartilhada por círculos mais amplos no meio docente e discente, bem como o apoio estudantil a diversas dessas manifestações serão, ambas, objetos de futura análise.
Cabe, nesse contexto, desmistificar o certame salarial que, ano após ano, toma como campo de batalha a Universidade de São Paulo. Segundo dados oficiais e do referente ano, os funcionários não-docentes da instituição dividem-se em três categorias, cada uma com respectivas faixas salariais, a saber: básica (R$1.210,90 e R$2.044), técnica (R$1.789,05 e R$3.569) e superior (R$3.542,20 e R$7.005). É pertinente, aqui, o primeiro comentário, escancarado nos valores supracitados: os salários pagos pela referida instituição estão em níveis incomparavelmente superiores àqueles obtidos na iniciativa privada, colocando por terra a primeira suposição, largamente divulgada, de que os referidos funcionários possuem remuneração parca. Para além do salário nominal, tais indivíduos também têm (de forma indiscutivelmente justa) o direito a uma série de benefícios, como auxílio-alimentação mensal de R$470, auxílio creche mensal (concebido segundo o número de filhos) de R$449,95, auxílio educação-especial no valor de R$449,95, além da ampla gama de serviços providos pela universidade a toda comunidade, como assistência médica e acesso a instalações esportivas. Ambos, salários e benefícios, são reajustados a taxas indiscutivelmente superiores à inflação: a título de exemplo, no período 2007-2010 acumulou-se um processo inflacionário de 16,4%; os reajustes de salário do período, considerando-se a proposta sustentada para o atual ano, de 6,57%, somam 20,3%; no decorrer do período de 2004 a 2010, a inflação de 33,2% foi acompanhada de um aumento no auxílio creche de superiores 49%; no vale refeição de substanciais 127% e, surpreendentemente, no que toca auxílio-alimentação, em um acréscimo da ordem de 213%, variando de R$150,00 para os já citados R$470,00.
A análise concisa e solidamente embasada em referências numéricas imparciais revela a total ausência de razoabilidade no conjunto argumentativo que dá base ao recorrente processo de greve nas dependências da Universidade: os salários e benefícios da referida instituição não só são indubitavelmente correspondentes às obrigações e qualificações de seus funcionários, como também são objeto de reajuste rigorosamente acima da inflação, evidenciando, dessa forma, a transmutação do que seria um esteio para um movimento supostamente legítimo em um insustentável apoio utilizado por elites e minorias sindicais, ciosas de longas paralisações que prejudicam o provimento de serviços fundamentais financiados pelo erário público de forma geral, em mais um clássico exemplo de irresponsável dispêndio de dinheiro advindo de impostos associado à ineficiência administrativa absolutamente endêmica.
Nesse sentido, é infelizmente freqüente na comunidade universitária notar, de forma especial no apoio desmedido e impensado dado por alguns grupos do interior universitário ao movimento, a visão maniqueísta e acobertadora, sempre mais fácil de ser entendida e transmitida: a classe trabalhadora universitária seria mera refém de uma ordem opressiva e construída para destituí-la de seus direitos fundamentais, objetivo comum a quaisquer indivíduos que se atrevam a erguer suas opiniões contrárias à paralisação ou a meramente discuti-la de forma crítica, questionadora e imparcial.
Posicionar, de tal forma automática e impensada, os atores em suas respectivas posições históricas de “oprimidos” e “opressores” não é só uma derrocada das defesas da análise precisa e do entendimento argumentativo: é se entregar a concepções confortavelmente prontas e que, inevitavelmente, nos levarão à traição das divisas fundamentais indelevelmente forjados no brasão da instituição que escolhemos para nos constituirmos enquanto cidadãos cônscios. Que nós vençamos pela ciência.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Scientia Vinces (I)
"Dizem que a resignação é uma força terrível"
Dostoiévski
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Olha Cadu, não costumo comentar nos post politizados aqui do blog mas nesse caso não vou falar realmente sobre aquilo que você falou mas sobre seu estilo. Muitas vezes quando leio seus textos aqui tenho a impressão de estar lendo uma redação sabe? as vezes isso é um pouco enfadonho... Digo isso não pra denegri-lo de qualquer modo, mas pra dar uma dica de como você pode melhorar: fique mais solto, vá falando e, se quiser, depois de uma revisada, não se prenda muito à forma de apresentar a coisa mas sim à idéia. Espero que você pense com carinho nisso e, caso não goste do meu estilo em retribuição, por favor comente suas opiniões sobre eles como eu fiz agora!
ResponderExcluirCuide-se!
HAHAHAHAHAHAHAHA
ResponderExcluirsério mesmo Cadu?
Você é o responsável pela parte de humor no blog??
Seguinte:
ResponderExcluirO campus foi sim estrategicamente construído distante do centro para acalmar os ânimos políticos dos estudantes da época. Afastá-los das decisões políticas de São Paulo. Tudo isso no contexto da ditadura militar no Brasil, a qual você não cita.
Não faço ideia do quanto você conhece sobre a história da USP, mas interdisciplinaridade é uma coisa que não há na USP... houve, antes da Batalha da Maria Antônia (a mesma que marca a transferência do campus), quando a grande maioria dos estudantes estudavam na FFCL.
Quais são as "notáveis conquistas intelectuais" [sic] que a USP alcançou nos últimos anos?
Você argumenta que a greve já teve sua função num passado histórico e não seria mais necessária agora, na incrível democracia na qual vivemos. Pergunta: Seria a estrutura de poder da USP democrática?
Qualquer pessoa que tenha o mínimo de informação sabe que a grande questão não é o reajuste salarial em si, mas a isonomia entre as categorias.
Mas o quê mais me assustou é você dizer que, por já ser maior que a média (incríveis R$ 600), o reajuste não é válido.
Um fato você não comenta: salvo engano, quase todos os reajustes conseguidos nos últimos ano foram com base em greve. Outra pergunta: reajusta um pouco acima da inflação não é o mínimo que o empregador deve garantir para o empregado? Ou o correto são os funcionários trabalharem e perderem poder aquisitivo todo ano?
Por duas vezes você chama o apoio a greve de atitude impensada. Argumentum ad hominem. Pra não falar em falta de respeito.
Pior, você chama seu próprio posicionamento de "crític[o], questionador e imparcial". Haja humildade.
Um abraço,
Thales A.
Grande Thales!
ResponderExcluirRespeito seus argumentos, mas me reservo o direito de não concordar com eles. Quando me referi à interdisciplinaridade, quis expressar o quanto a USP junta em espaços relativamente pequenos grandes centros de pesquisa ou pesquisadores de diversos temas e como os próprios alunos podem, a partir disso, adquirir um conhecimento amplo e, no fundo, interdisciplinar. Conheço amigos da Poli que já foram assistir aulas de literatura na FFLCH; os próprios alunos de ciências sociais frequentemente vão à FEA para ter aulas de economia, por exemplo. Em um maior ou menor grau, na minha opinião, existe sim uma "rede de interdisciplinaridade"; se ela poderia ser melhor, acho que já é outra discussão.
Sinceramente, seria pedante ficar listando aqui (e no texto, mesmo) conquistas de professores, alunos ou da USP mesmo. Sendo bem geral: A USP é a latino-americana mais bem colocada em rankings internacionais (muitas vezes é a única brasileira a aparecer); em 2006, por exemplo, foi responsável por 28% da produção científica brasileira. Além disso, o próprio site da universidade tem uma lista gigante (que, de novo, não cabe colocar por aqui) do quanto, no mínimo, a nossa universidade é destaque no cenário brasileiro. Eu não quis dizer que ela não tem problemas, ou é perfeita: mas negar que ela continua sendo um grande centro de conhecimento nacional é, no mínimo, um exagero.
Não há referência no texto à "incrível democracia que vivemos", muito menos à idéia (que é exclusiva do seu comentário) de que greves não são necessárias agora; o que eu proponho é uma análise crítica especificamente das greves da USP. Não faz sentido estender essa análise a toda e qualquer greve. Além disso, eu só cito que gostaria de escrever um dia sobre a questão da (existência ou não, necessidade ou não)de democracia do poder na USP; sequer há a minha opinião sobre o assunto no texto.
Não quero abrir uma discussão sobre isonomia (que, em si, é muito questionável) aqui com você, mas as greves anteriores não foram condicionadas pela existência dela: houve isonomia salarial e elas ocorreram da mesma forma.
O ponto não é que o reajuste não seja válido: a questão é que soa absurdo parar uma universidade em nome de reivindicações (dentre elas, principalmente) salariais quando, como os números mostram, tanto as remunerações quanto as correções não só estão dentro da realidade brasileira, como a superam substancialmente; eu não sei se a intenção de "incríveis 600 reais" foi a ironia, mas basta olhar ao redor para notar o quanto 600 reais é um reajuste de fato incrível na realidade brasileira.
ResponderExcluirBoa parte dos reajustes podem ter sido obtidos através da greve, mas até quando vamos com isso? Greve após greve, ano depois de ano a universidade parada por dois, três meses, acessos bloqueados, estudantes (especialmente os com menos recursos) prejudicados, e, novamente, como os números mostram, mesmo o reajuste oferecido inicalmente pela reitoria (que está incluido na estatística) é rigorosamente acima da inflação. É evidente que devem haver reajustes para que os trabalhadores não percam o poder aquisitivo, mas o problema é exatamente esse: não estamos falando aqui de "o mínimo que o empregador deve garantir para o empregado", mas de reajustes, que, em benefícios, chegam a 213%, em períodos de inflação 33,2%. Isso não é o mínimo, é quase seis vezes além da desvalorização monetária. De novo, meu objetivo não é questionar se os reajustes são válidos ou não, mas se é válido promover uma greve que, dentre outras razões, se embasa nisso.
Por fim, eu não disse que o apoio à greve é uma atitude impensada, mas que certos grupos aderem a ela, sim, de forma impensada; não se trata de forma alguma de uma generalização. E como o retorno ao texto demonstra, eu não qualifico o meu pensamento de tal forma: explicito, apenas, a oposição ferrenha que alguns indivíduos, ao tentar analisar de "forma crítica, questionadora e imparcial" (essa sim a citação integral), sofrem por parte de certas visões pré-concebidas, exemplificadas na idéias de "oprimido" e "opressor”.
Abraços,
Caro Cadu,
ResponderExcluirPrimeiro perdão se em algum momento fui ou pareci sarcástico. Às vezes faço isso só para o texto não ficar muito chato.
Quanto a essa "rede de interdisciplinaridade", o fato é que antes ela era meio que institucionalizada. Agora deve partir da iniciativa do aluno e é (a rede) muito limitada.
Eu não discordo da sua análise da "grandeza da USP", só acho que ela é quantitativa. "Notáveis conquistas" são diferente de "inúmeras conquistas". Inegável é que a USP tem inúmeras conquistas intelectuais, mas adjetivá-las de notáveis é generalizar (na minha visão).
Eu sei que no seu texto não há o debate em torno da democracia brasileira e nem da USPiana. Por isso as perguntas no meu comentário. São pontos que acho importante serem discutidos, mas um pouco inviáveis por este meio.
Cada greve tem sua própria reivindicação. Por isso, acho que quem deve avaliar isso são os próprios funcionários, organizados em torno do SINTUSP.
Só uma correção. Os 600 vieram da respectiva reportagem do Estado de São Paulo: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100612/not_imp565402,0.php. Nessa reportagem, o Estadão afirma que o funcionário que pior ganha na USP (R$ 1.210,00) ganha acima da média na iniciativa privada (R$ 640,00). Eu sinceramente acho um absurdo alguém considerar essa média (não estou falando de você no caso, mas sim do Estadão).
Tem um problema nos seus dados Cadu. Um reajuste de 213% em um benefício pode representar um reajuste de apenas 20% na renda do trabalhador. Se puder, me enviei seus dados e as fontes para que eu possa analisar melhor, por favor.
Falar que qualquer pessoa adere à greve de forma impensada e que outros fazem uma argumentação crítica e imparcial é problemático na minha visão. Perdão se entendi que você dava a si mesmo essas qualidades.
Também peço desculpas se te ofendi (como um amigo meu me alertou) com o primeiro comentário. É que não pude deixar de rir com frases como "notáveis conquistas intelectuais", "Que nós vençamos pela ciência" etc. De maneira alguma quis desmerecer seu texto... até por isso fiz essa "ironia" (amiga) em um comentário separado da minha análise.
E pra não ficar só criticando, tem uma frase sua que eu concordo plenamente: "A universidade tem se tornado periodicamente refém inconteste de minorias estudantis e sindicalistas, ansiosas de promoverem politicagens divergentes da proposta evidentemente plural e respeitosa constituinte do âmago universitário." Com certeza, esse é o grande problema das mobilizações dentro da USP, elas só visam atender propósitos de uma minoria partidária.
Que vençamos pelo diálogo.
Um abraço,
Thales A.
Olha o Emano querendo desvirtuar a proposta do blog. =P Veja bem, iridescente também exprime diversidade de estilos.
ResponderExcluirCadu, quando li a frase do Dostoiévski, achei que o seu texto serviria em certa medida de contraponto ao meu, por causa da idéia que transmiti no meu último parágrafo. Você sabe que não só eu mas grande parte dos t-nonos do vespertino te admiramos pra caramba. Porém, o seu texto foi meio redundante. Tá certo, você apoiou os seus argumentos com dados mais sólidos e a sua proposta foi diferente da minha - você se posicionou muito claramente contra desde o início e refutou de maneira muito explícita a legitimidade da greve. Mesmo assim... enfim, você teve as suas motivações.
"O ponto não é que o reajuste não seja válido: a questão é que soa absurdo parar uma universidade em nome de reivindicações (dentre elas, principalmente) salariais quando, como os números mostram, tanto as remunerações quanto as correções não só estão dentro da realidade brasileira, como a superam substancialmente". Isso mostra de certa forma o disparate que é alguém achar que vai mudar o país a partir do aprimoramento da USP nesse aspecto. É muito inviável querer que os funcionários menos qualificados tenham seus salários mais equiparados aos dos professores, por exemplo; isso é o mesmo que tentar resolver um problema estrutural, cujo buraco é bem mais embaixo, a partir de cima.
Thales. =)
"Falar que qualquer pessoa adere à greve de forma impensada e que outros fazem uma argumentação crítica e imparcial é problemático na minha visão. " A não ser que eu tenha relido o texto do Cadu desatentamente, em nenhum momento ele generalizou. Ele foi bem cuidadoso quanto a isso, aliás.
Uma coisa não ficou clara pra mim, cara: você é contra a greve ou a favor dela? Seria bem interessante se você fosse a favor e expusesse os seus argumentos.
Abraços!
Sim sim Roger, claro que a diversidade de estilos é bem vinda, só quis dar umas dicas pro Cadu, embora não fosse meu objetivo julgar de qualquer forma o mérito dele. Fiz isso porque gosto muito quando criticam meus textos e mostram meus erros neles, aquilo que eu poderia ter feito de forma melhor. Esqueço que as vezes as pessoas podem achar que com esse tipo de comentário só quero pentelhar ou tentar me mostrar superior. Desculpe-me se te ofendi Cadu, mas realmente acho interessante que compartilhemos também esse tipo de discussão aqui no blog, não apenas aquelas ideológicas.
ResponderExcluirCuidem-se todos!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirRoger,
ResponderExcluirEu até tinha escrito uma crítica gigante ao seu texto (do qual não concordo em nada), mas o blogger deu erro. =\
Se tiver um tempo sobrando algum dia, tentarei fazê-la novamente.
Sobre a sua frase "É muito inviável querer que os funcionários menos qualificados tenham seus salários mais equiparados aos dos professores": Não é isonomia salarial, é isonomia de reajuste salarial.
Os que apóiam a greve não defendem uma equiparação de salários, mas acreditam que se um reajuste é concedido a uma categoria (como foi o caso dos professores do começo do ano) o mesmo reajuste deve ser dado às outras categorias.
Eles argumentam que um reajuste é uma valorização do profissional e conceder esse reajuste para apenas um grupo de "funcionários" da USP (professores não são funcionários, mas estou simplificando) é uma consequente desvalorização do outro. Pra mim, nesta greve, esse é um dos muitos pontos que deveriam ser debatidos... e não se funcionários da USP ganham ou não acima da média da iniciativa privada (média ridícula por sinal).
Por duas vezes o Cadu declarou que alguns grupos agem sim de forma impensada em relação à greve.
Se apóio ou não a greve?
Eu enxergo esse negócio de apoiar ou ser contra muito limitante, chega a ser maniqueísta e ignora a complexidade do assunto.
Aliás, isso é o quê mais me assusta nas discussões na USP no geral, principalmente sobre greve e movimento estudantil.
De um lado temos aqueles que sempre defendem incondicionalmente greves (de funcionários e de estudantes); não importando as causas, os objetivos, a hora, o local, os meios etc.
De outro, temos aqueles que vêem a greve como um ato quase terrorista, uma afronta à ordem social e que sempre serão contra ela.
Sou solidário à atual greve na medida em que respeito a organização da categoria em torno de um sindicato e em torno de assembléias. Da mesma forma, nós, estudantes da USP, nos organizamos em torno de CAs e do DCE Livre Alexandre Vannucchi Leme. Pra mim, ser solidário não é ser favorável.
Sou a favor desta greve em alguns aspectos, mas (da mesma forma) sou contra em outros (por isso fico feliz que meu texto tenha gerado esta dúvida).
Mas isso é uma análise mais profunda.
Enquanto as discussões girarem em torno de que: "os funcionários da USP ganham bem", "o vagabundo quer fazer greve e ainda quer receber", "tiraram meu bandejão", "grevistas destroem patrimônio público", "estudantes sofrem com a greve", "vivemos num país democrático, greves são desnecessárias" e outros absurdos como esses, vou sempre parecer (e somente parecer) totalmente favorável às greves na USP.
Abraços,
Thales A.
Grande Thales!
ResponderExcluirConcordo ocm você: a questão da democracia é fundamental de ser discutida, e, acho que, no futuro, ainda virão (não só de mim, mas de várias pessoas aqui do blog) textos interessantes sobre esse assunto. É só o que eu te falei, realmente não deu pra incluir a discussão (que é bem complexa) no texto, questão de espaço e foco mesmo.
Eu interpretei errado o seu comentário: pensei que 600 reais fosse o reajuste correspondente, não o "acima da média" do Estadão (que, eu concordo com você, é bastante questionável).
Sobre as fontes, elas basicamente vêm do site da USP: http://www.usp.br/imprensa/?p=907 (salários das categorias e valores dos benefícios atuais); a questão dos reajustes é uma comparação de várias notícias: http://img217.imageshack.us/i/89756512.jpg/ e http://img243.imageshack.us/f/72756915.jpg/ , principalmente.
Eu reli o texto, e, como o Roger falou, não achei que ele contivesse uma generalização, mas, só reafirmando: a intenção foi dizer que alguns grupos aderem a ela de forma irrefletida: não significa de maneira alguma que todas fazem dessa meneira. Isso, como você mesmo apontou, seria uma generalização irresponsável.
E só pra não ficar um clima estranho: não me senti ofendido de maneira nenhuma, pelo contrário: agradeço por você ter lido o texto e feito comentários e questionamentos absolutamente pertinentes. Acredito que é desse jeito que uma discussão evolui e se torna madura.
Grande Roger!
Eu acho que, no fim das contas, nossos textos tiveram focos um pouco diferentes: talvez voce tenha falado um pouco mais sobre o movimento estudantil em si e eu me concentrei mais na questão da greve e das reivindicações sindicais. De qualquer jeito, agradeço bastante tanto voce quanto o Emannuel (e, claro, o Thales também) pelos comentários sobre o texto: eles serão levados em conta no futuro, com certeza. Por fim, concordo com você: o problema é estrutural e bem, bem mais complicado.
Grande Emannuel!
De novo, gostaria de dizer que não me senti ofendido de maneira nenhuma: seus comentários são vaálidos e, por favor, não deixe de fazê-los. No fim das contas, esse é o meu jeito de escrever, mas isso pode (e espero) mudar com o tempo, e pra melhor: pra isso, conto com comentários como os seus. Fique à vontade.
Grande abraço a todos (:
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCadu, eu gosto dos seus textos (:
ResponderExcluirSe as coisas aqui fossem menos ideologizadas, menos passionais... talvez perdesse toda a graça e o sentido para nós! O mundo lá fora é xoxo, é muito realista! Prefiro ficar nos arredores da Torre do Relógio e viver essa emocionante aventura de ser um estudante e lutar contra as forças das trevas.
Só falta um James Cameron para filmar mais esta odisséia do bem contra o mal!
(amigo, nessa Universidade a única utopia é o pragmatismo... hehe!)
Bom. Greve é um instrumento legítimo sim, oras. Em alguns momentos da história do país, já foi o único. Mas é um instrumento para ser usado como último recurso, e não como primeiro. Ainda não fui convencido o suficiente de que a negociação foi tentada até onde era possível. O atual reitor já era alvo de ataques - vide cartazes na FFLCH no início do ano - antes mesmo de assumir (pelo fato de ter sido escolhido pelo governador Serra, como dita a norma da USP). Então o reitor poderia ser qualquer um, seria um inimigo público do mesmo jeito.
A princípio, isso me dá motivos para desconfiar mais dos sindicalistas do que do reitor, no quesito "disposição ao diálogo".
De coração: espero que os oprimidos de ontem não estejam pensando seriamente em virar os opressores de hoje.
bons ventos,
Ontem, quando escrevi o comentário, eu estava com muito sono. Só agora vi que a tentativa que fiz de ironizar o maniqueísmo de 'bem, mal, oprimido e opressor', nos primeiros parágrafos, ficou um estorvo. Servicinhos mais-ou-menos que fazemos quando estamos sonolentos. Favor desconsiderar!
ResponderExcluirabrass :)
sério mesmo, Cadu?[2]
ResponderExcluirGrande Thales? Ele é um nanico. E você também. E eu. O Emmanuel. Só o Raul se salva nesse mundo de anões que é RI.
Abraços,
Beira.
Concordo com um dos tios acima quando diz que o seu texto parece mais uma redação do que qualquer coisa. Tente se libertar disso...
ResponderExcluirBom, como estudante da USP, a greve me encheu o saco, claro. Eu, particularmente, discordo das reivindicações dos grevistas, mas os admiro por lutar pelo que querem. Afinal, é disso que eu sinto falta na sociedade hoje em dia...
Prefiro conversar diretamente com você. Quero falar mais desse texto.